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Kolkata – India

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Segundo nosso roteiro inicial, teriamos alguns dias em Bodh Gaya, onde Buda recebeu sua iluminacao espiritual, e mais alguns dias sobrando em Calcuta, que agora eh conhecida como Kolkata.

Bem, depois de varias consultas com residentes locais no pais, acabamos descartando a ideia de ir ate Bodhgaya, pois a regiao estadual onde se encontra (Bihar) esta num estado de calamidade publica: guerras de castas constantes, assassinatos quase diarios, bandidos bloqueando a estrada e assaltando onibus de turismo, enchentes, surtos de malaria, enfim todas as razoes possiveis para passarmos longe dali, mesmo estando bem em nossa rota a Kolkatta.

Em relacao a esta ultima, ate agora nao sabemos o que aconteceu, mas os dias que teriamos, resumiu-se a apenas algumas horas, uma vez que nosso voo para a Tailandia sai as seis da manha do dia seguinte.

Sem muito tempo disponivel, quando chegamos na cidade apenas procuramos pela area do aeroporto, a procura de um hotel onde pudessemos descansar um pouco.

Cruzamos a cidade praticamente, e pelo caminho, pudemos vislumbrar um pouquinho da terceira maior cidade da India. Como todas megacidades do pais, Kolkatta beira ao caos, o transito eh infernal, as favelas fazem parte de grande parte da paisagem, criancas tomando banho com a agua da sarjeta, pedintes por todos os lados, ruas empoeiradas e confusas.

Mas a arquitetura local e no minimo intrigante, entre as caoticas avenidas indianas, predios coloniais no estilo vitoriano britanico, uma lembranca da epoca do British Raj na India, quando a cidade era a capital do pais.

Ao chegar em nosso hotel, lembrei-me da casa muito engracada, aquela que nao tinha teto, nao tinha nada, como Chico Buarque cantava. O hotel tinha teto, mas este estava com um vazamento tao grande, que uma pequena cachoeira vazava sob a grande escadaria.

Se a agua corria em abundancia ali na entrada, em nosso quarto ela era praticamente inexistente, ja que apenas as torneiras da pia funcionavam. Avisamos a recepcao e eles mandarm um de seus funcionarios dar uma olhada no que estava acontecendo e assim, um menininho com pouco mais de dez anos olhava atenciosamente para o chuveiro, sem saber o que fazer. Ai meu Deus!

Fora que ali naquele hotel, bater na porta era um costume inexistente. Um senhor de meia-idade entrou em nosso quarto assim de repente e veio nos perguntar se queriamos uma cerveja. Depois de uma meia hora, (sem bater na porta de novo), ele entrou e tirou a cerveja de dentro de sua calca! Meu humor naquela altura ja estava ficando pesado e, a terceira pessoa que entrou sem bater, um outro funcionario que veio analisar o chuveiro, acabou levando a bronca por todos os outros.

Solicitamos um wake-up call para as tres da manha e, sem banho tomado, nos despedimos da India, com um delicioso chicken tandori.

Refletindo sobre os ultimos meses, quando atravessamos o pais de Sul ao Norte e agora de Oeste ao Leste, senti-me gratificada por tudo o que aconteceu ali, mesmo com os perrengues, mesmo com as dificuldades.

Viajar pela India nao e facil, nem para quem ja mochilou pela Europa, e um exercicio constante de paciencia, olhar por cima das dificuldades, controlar o espirito, enxergar mais alem.

Nem sempre consegui fazer isto, as vezes confesso que praguejei todos os Rajs por nao achar uma cash machine que nao tivesse que andar mais que dois quilometros. Torci o nariz as vezes e imaginava ver o molho de ‘barata-massala’ nas barraquinhas simples e sujinhas, sofri com o calor as vezes insuportavel, corri de pavor dos primeiros ratos que vi na rua, me perdi na caoticidade de suas vias, sempre superlotadas de pessoas.

Mas enquanto arrumava minha mochila, vi que o que estou levando comigo e muito mais importante do que tudo isto. Como num trabalho de patchwork, que de longe parece desordenado e nao muito atraente, de perto, e encantador, descobrir a cada instante novos detalhes, dentro desta diversidade de historias, costumes, religioes, tao distintos mas ao mesmo tempo, convivendo lado-a-lado. Ter estado ali foi indescritivel, uma experiencia que pretendo um dia repetir.

Ja comeco a pensar como seria uma segunda vez no pais, e lembro-me das pessoas que encontramos que ja estao na quarta, quinta, sexta visita a India. Tambem aqueles que aqui ficaram, como os ‘long stayers’ de GOA.

Nao consegui dormir e, como estava prevendo, nossa ‘wake up call’ nao aconteceu. No horario de nosso taxi, desci e acordei aquele que deveria ter me acordado, e assim, partimos.

 FOTOS UTILIZADAS NESTE POST: travelblog.org

Varanasi – India

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A viagem ate Deli foi um pouco demorada, o onibus veio lotadesimo e a chegada um tanto complicada, pois a parada final era bem no meio do nada. Pegamos um taxi ate a estacao central e naquele estress todo, decidimos pegar o trem noturno para Varanasi.

Ficamos ali pela cidade, matando o tempo e com o aproximar do final da tarde, seguimos de volta a estacao de trem.

Meu, a estacao de Delhi para mim e uma visao do inferno: pedintes por todos os lados, muita, muita sujeira, fomos pegar as malas no locker da estacao e um cartaz enorme alertava para nao deixar pertences no chao, claro, o lugar estava infestado de ratos.

Fora o fluxo altissimo de pessoas, debaixo daquele calor intenso. E, quando achava que nada era pior do que estava vendo, olho para o lado e um menininho estava defecando nos trilhos do trem. Meu, a vontade que me deu foi de sentar e chorar.

O trem para Varanasi chegou e uma fila quilometrica foi sendo formada na plataforma, que imaginamos devia ser para os assentos sem reserva antecipada. O alvoroco das pessoas enfileiradas, que se preparavam para correr e disputar a tapas um lugar para sentar durante as mais de oito horas de viagem somente era quebrado por um senhor que, com um bastao de bambu na mao ia passando e xicoteando aqueles que estavam desalinhando a fila. Foi bem chocante constatar que tratar pessoas como animais aparentemente e uma situacao normal.

Entramos no trem logo que pudemos e embarcamos rumo a Varanasi, uma das cidades mais antigas do mundo e tambem o ponto considerado como o mais sagrado de toda India, por hindus, budistas e janistas.

A cidade fica as margens do Rio Ganges, o rio sagrado. Segundo a religiao hindu, banhar-se em suas margens e como lavar os pecados da alma. Mas, sabendo que o ganges carrega cerca de 1,5 milhao de coliformes fecais (quando o maximo permitido para o banho e de 500) por 100 ml de agua, sinto muito, mas prefiro ficar com meus pecados comigo!

Chegamos na cidade durante o comeco da tarde. Pegamos um rickshaw ate as proximidades da area central e prosseguimos caminhando, ja que o acesso e restrito apenas a pedestres. A cidade, a primeira vista aparenta ser tao movimentada quanto Deli e, por sua natureza sagrada e ainda mais visada em epocas de atentados terroristas. Em funcao das bombas que recentemente estouraram em Deli, encontramos um forte esquema de seguranca principalmente nas proximidades das Ghats.

Ali, apos passarmos por um portao, entramos num labirinto de vielas estreitas, que mal comportavam o numero de transeuntes, sem contar as varias vacas, cabras e cachorros que iamos encontrando no caminho. Ao ver nosso olhar de perdidos, um sujeito se ofereceu a nos acompanhar ate nosso hotel e assim, em poucos segundos chegamos ao nosso destino, naquele emaranhado de vias.

A cidade de Varanasi e um dos pontos mais iconicos da India religiosa. Todos os dias milhares de pessoas atravessam o pais para estarem ali. Alguns viajam apenas com a passagem de ida, na esperanca de poderem morrer na cidade, pois segundo a religiao hindu, o rio ganges flui diretamente do paraiso e, aqueles que forem cremados e suas cinzas despejadas em seu curso, garantem a certeza de atingir ao nirvana no seu pos-morte.

Enquanto aguardavamos nosso quarto ser preparado, sentamos ali no terraco central, que ficava logo acima da passarela que interliga as ghats, as margens do rio. O sol estava a se por e, bem abaixo de nos, um grupo de senhores banhavam-se nas aguas. Ao longe, na margem oposta, um grupo de pessoas seguia numa linha reta, carregando numa maca o que de longe nos pareceu ser um corpo envolto em lencois.

Apos algunsminutos, uma fogueira foi acesa e o conteudo da maca ali depositado.

Um forte vento comecou a soprar pela cidade, tao forte que as mesas do terraco onde estavamos comecaram a serem lancadas para o fundo, assim, de uma hora para outra. Ali, com as belas ghats povoadas por seus devotos, com seus templos distantes, naquele vendaval que se formava, e o fogo dos rituais funerarios sendo acendidos nas proximidades das margens, entrei num cenario tao diferente e surreal que custei a acreditar que nao estava sonhando.

Nao e a toa que dizem que a India e um pais magico. A impressao que tenho as vezes e que estou numa outra dimensao do universo, onde tudo funciona de forma diferente, com outra velocidade, outros valores. outras cores, outro cheiro, outro som. As vezes entramos no paraiso, e a paz, mesmo com a caoticidade a sua volta, sobrepoe-se a tudo. As vezes, entramos no inferno, e tudo parece fora do lugar, dificil, cansativo, com situacoes de miseria sendo esfregadas em sua cara, como nas estacoes de trem. E este ultimo, e o purgatorio, onde aguardamos para saber onde iremos parar.

A noite comecou a cair e decidimos caminhar um pouco pela passarela abaixo de nos. Logo que descemos as escadarias, um barqueiro veio nos oferecer um passeio pelo rio, por entre as ghats. A maioria das pessoas prefere fazer este passeio durante a madrugada, pois dizem que as cores do ceu, combinadas com os primeiros raios de sol sob o rio sao maravilhosas, mas e a noite que acontece a maioria dos rituais, que achamos mais interessante, entao acertamos o preco com ele e embarcamos.

Apos uns quinze minutos, chegamos ate a Dasaswamedh. De longe, ja avistamos as fogueiras. Nosso barqueiro parou bem em frente das celebracoes, e varias familias aglomeravam-se entre os diversos planos da area destinadas as cremacoes. Aparentemente, tais planos sao referentes as castas das quais os corpos cremados eram pertencentes.

Criancas (pela pureza), mulheres gravidas (por estarem carregando criancas), leprosos (pelo contagio da doenca) e vitimas de picada de cobras (pelo veneno) nao sao cremados sob circunstancia alguma. Estes, sao apenas depositados sob o rio ganges. Tambem, os corpos nao queimam por completo. Dos homens, sobram o torax e das mulheres a bacia. Estas partes tambem sao lancadas no rio, por isto nao e raro localizar partes humanas entre suas escuras aguas.

Nosso barqueiro nos levou a uma segunda Ghat, onde estava acontecendo um festival religioso fantastico. Ali nos despedimos, e decidimos continuar a pe. Voltamos ate a primeira Ghat e, juntamente com as familias que ali estavam, acompanhamos aos rituais.

A principio, achei um pouco estranho pois nao encontrei a sobriedade e tristeza que encontramos em funerais comuns. O clima era descontraido, claro, eles nao estavam dancando e cantando, mas sim conversando entre eles, com uma expressao serena. Um guiazinho que apareceu ali do nada comecou a explicar que os hindus celebram a passagem desta vida para uma outra com alegria, pois alem da possibilidade atingirem ao nirvana, esta tambem e a unica chance que eles tem de mudar de uma casta para outra. Se tiverem vivido uma vida correta e digna, devem retornar numa casta superior.

Tambem no ar, apesar da fumaca espessa, nao havia nenhum odor distinto, nem dos panos, nem dos corpos que queimavam bem ali a nossa frente.

Nosso guiazinho nao parava de falar e comecamos a ficar cansados, pois desde o momento que chegamos fomos carregando conosco estes ‘novos amigos’, que chegam conversando, te levam em alguns lugares e depois solicitam doacoes. Nao ha confronto e tudo e feito de maneira amigavel e bastante educada, e ate prazeirosa, mas acontece com tanta frequencia que nao ha como nao ficar de saco cheio.

No caminho de volta ao hotel, a mesma coisa, um outro rapaz apareceu, se ofereceu para nos levar ate o hotel, disse que nao queria dinheiro, apenas que fossemos ver uma tapecaria da familia dele. Estavamos tao cansados e tao perdidos e ele era tao simpatico, que fomos, ali desviando das montanhas de esterco, naquele labirinto maluco, nossa, serio mesmo, as vielas sao tao inumeras e confusas, e com aquelas vacas no caminho, a impressao e de que a qualquer minuto iremos encontrar o Minotauro.

Entramos na tal tapecaria que mais parecia ser uma casa de familia. Ali, sentados no chao, varios senhores abriam pecas de tecidos maravilhosas. Sedas, lencos, colchas bordadas a mao e coloridas em tons diversos. Um trabalho tao fantastico que passamos um bom tempo ali, somente admirando as pecas, que iam sendo abertas e distribuidas ao nosso redor.

Ao saber que era brasileira, o dono da tapecaria veio me perguntar se conhecia um tal de Jose de Abreu. Segundo ele, o ator esteve ali ha uma semana atras na sua loja. Ele estava na cidade para as filmagens de uma novela, que se passara na India. Para mostrar que nao estava mentindo, o senhor me mostrou um papel com o telefone e um endereco no Rio de Janeiro que disse ser do ator. Disse que ele gastou mais de R$15 mil em sua loja, e esperava que eu fosse fazer o mesmo.

Expliquei que nao trabalho na Globo e, infelizmente tudo o que vou deixar ali e um muito obrigado e tenha uma boa noite e assim, com nosso guia numero dois, seguimos ate o hotel.

Felizes com tudo o que vivemos naquelas poucas horas, fomos descansar. Amanha seguiremos para Calcuta, a parte final de nossa viagem a India.

ATENCAO: Devido a um problema tecnico com nosso Memory Card, nao pudemos postar nossas fotos ainda. As utilizadas neste post foram retiradas dos sites:

http://www.rajuindia.com/taj-mahal/bathing_ghats_on_ganges_in_varanasi.jpg
www.indialine.com
http://photography.nationalgeographic.com/staticfiles/NGS/Shared/StaticFiles/Photography/Images/POD/v/varanasi-pilgrimage-508687-lw.jpg
http://7art-screensavers.com/screenshots/india/india-varanasi-ghat.jpg

Mc Leod Ganj – India

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Chegar ate Mc Leod Ganj ia ser um perrengue, ja dava para ver so de olhar no mapa. A cidade esta encrustada ao longo das montanhas dos Himalayas, o acesso pela estrada e escasso, de Delhi seriam dois trens, so para chegar nas proximidades…

Mas, por outro lado, ouvimos/lemos tantas referencias boas sobre o lugar que deixamos a preguica de lado e encaramos. Pegamos nosso trem em Delhi, e sentamos proximos a um grupo de indianos que trabalhavam para uma empresa de IT e tambem de duas meninas de Israel, que pelas expressoes faciais, haviam acabado de chegar na India. Elas pareciam bem assustadas com o rebulico de Delhi e acho que se tivessemos comecado a viagem pelo pais por ali, tambem estariamos.

Neste trem que pegamos, cada cabine e separada do corredor por cortinas e cada compartimento tem quatro bancos que de noite viram cama, com direito a lencol, travesseiro e cobertor, um lance bem organizado, embora desconfie que os lencois nao devem ser lavados entre um passageiro e outro.

No meio da noite, fui fumar um cigarro nas divisas entre vagoes. Abri uma das portas laterais e estava ali bem tranquila quando senti um par de maos sob os meus ombros. Olhei para tras, e um indiano, bem mais alto e forte que eu, estava ali, me encarando sorrindo, sem dizer nada e me segurando pelos bracos. A nossa volta tava todo mundo dormindo, com suas cortinas fechadas. Nao pensei, apenas reagi, empurrei o cara longe para ter espaco para passar e sai correndo, so lembro de ter pensado, meu o cara vai saber onde estou dormindo e vir me perturbar…Assim que achei a minha cabine, pulei para tras do Al e fiquei ali, esperando o figura passar. Felizmente ele passou, parou um pouco na frente de onde estavamos mas continuou caminhando. Sinistro, dormi mal pra cacete esta noite.

Chegamos pela manha em Pathankot e, junto com as meninas israelenses, pegamos um outro trem ate Dharamsala. Este segundo trem tambem e conhecido como ‘toy train’ porque ele e pequenininho e lembra mesmo um trenzinho de brinquedo. O Al uma vez me mostrou uma foto deste trem, superlotado e tudo o que dava para ver eram os pes das pessoas saindo pela janela! Mas, como pegamos ele logo no inicio, achamos logo um bom lugar para sentar.

Pelo caminho, fomos cortando vales, cercados por montanhas altas de vegetacao cerrada, grandes lagos, passando por pontes velhas. A cada estacao que paravamos, mais e mais pessoas subiam no trem e ele foi ficando cada vez mais parecido com a foto, o que me deixou meio assustada.

Tambem, cada parada levava pelo menos vinte, trinta minutos, pois os trilhos nesta parte do caminho sao de via unica, entao tinhamos que esperar o trem contrario passar para poder continuar Enfim, estavamos esperando chegar em Dharamsala ao meio dia, mas ja eram mais de duas horas e ainda estavamos no caminho.

Ali descobrimos que na verdade iria terminar em Kangra, entao acabamos descendo ali. Saindo da estacao, tentamos pegar um rickshaw, mas foi inutil tentar disputa-los com a galera que desceu do trem, que aos bandos iam entrando nos veiculos.

Num deles, consegui contar dezesseis pessoas, sendo que normalmente ele mal comporta quatro adultos! Coisa de doido, como aquelas competicoes onde as pessoas tentam ver quantas pessoas cabem dentro de um fusca…

No final conseguimos um taxi que nos levou ate a rodoviaria, dali pegamos um onibus ate Dharamsala e dali pegamos um taxi, ate Mc Leod. A cada quilometro que rodamos, iamos subindo a montanha, por uma estreita e super ingreme estradinha de concreto. O motorista corria como um louco, mas estavamos tao cansados que nem nos abalamos. Nem mesmo quando uma das rodas do carro deslizou para fora da pista e quase despencamos num barranco de mais de 1000 metros.

Chegar em Mc Leod foi como atingir o Nirvana. Depois de quse 20 horas viajando, chegar ali naquela

vilinha nas montanhas, rodeada por arvores, repleta de monges transitando calmamente por vias , com suas casas de pedras, predinhos baixos com detalhes orientais e templos maravilhosos, foi como encontrar um ‘oasis’ no deserto.

Encontramos um otimo hotel de frente as montanhas, com uma vista maravilhosa. Foi tao bacana estar ali, a cidade e tudo e muito mais do que eu esperava. Alem da beleza e tranquilidade da regiao, ali tambem esta o Governo do Tibet em Exilio e e a residencia oficial do Dalai Lama.

Mc Leod e o ponto-de-chegada de muitos refugiados do Tibet que para escapar da opressao do governo

chines atravessam montanhas de mais de 5000 metros de altura, na neve, em busca de melhores condicoes de vida.  Muitos morrem pelo caminho, outros sofrem congelamentos de parte de seus corpos que sao amputadas ao chegarem na India. E eu achando que a minha viagem ate ali tinha sido perrengue…

A cidade estava lotada de viajantes. Muitos vem para ca para trabalhar como voluntarios nas associacoes de refugiados, outros, atras de centros de meditacao e ioga. E mais uns tantos como nos, mochileiros pela India.

Fomos jantar num dos restaurantes locais e ali conhecemos dois inglesinhos que haviam acabado de chegar na India e ali, entre varias Tiger Beers, passamos nossa primeira noite no local. Na volta, fomos pegos pela moncao, mas sabendo que ela iria durar algumas horas, encaramos. Fazia muito tempo que eu nao tomava chuva, e a moncao, meu, aquilo nao eh chuva, eh diluvio! Em alguns segundos jah estavamos completamente molhados, correndo pelas ruas.

Assim que o dia amanheceu, fui conferir a nossa vista, agora sob a luz do sol. O vale abaixo e de tirar o folego, com o verde das montanhas somente sendo interrompido por algumas pequenas vilinhas. A regiao de Dhramsala na epoca do British Raj era utilizada pelos britanicos como residencia de verao, uma vez que o calor em outras partes da India e muito mais intenso.  A cidade de Mcleod foi estabelecida em 1850, como uma guarnicao britanica, ate que um terremoto em 1905 deixou a cidade toda em ruinas.

Ela ficou meio que esquecida do mapa ate 1960, quando o Dalai Lama por questoes de seguranca, decidiu exilar-se por ali. Caminhamos ate onde esta a sede do governo, juntamente com o maior templo budista da regiao. Ali tambem ha uma excelente exposicao sobre o Tibet e as atrocidades cometidas pelo governo chines.

Ate 1950 o Tibet era um pais autonomo, com legislacao e moeda propria. Porem, apos a ocupacao do exercto comunista chines, passou a ser incorporado a China. Varias revoltas, algumas com o apoio da CIA, ocorreram desde entao e todas foram massacradas pelo governo chines. Mais de 1,2 milhoes de pessoas morreram desde entao n conflito e mais de 250.000 se exilaram do pais.

Sem contar que todo o passado historico do pais esta sendo dia-a-dia destruido. Templos, palacios e monumentos foram quase totalmente eliminados pelo gverno chines que tambem possui um plano de incentivo a migracao de chineses para a regiao, para ‘diluir’ a populacao local.

A causa aos pouquinhos tambem esta sendo esquecida pelo publico, ja que hoje em dia a China exerce grande influencia em mercados internacionais. E muito triste e revoltante. Nas ruas de Mcleod, a cada esquina encontramos com refugiados, alguns ainda com cicatrizes no rosto ou na cabeca.

Mas a atmosfera geral da cidade e de paz. E fascinio. O clima por aqui muda bem rapido e, se acordamos com os raios do sol sob o vale, no final da tarde uma espessa neblina pairava por toda a cidade.

A noite, o Al foi assistir ao jogo da Liga dos Campeos com os inglesinhos que conhecemos e fiquei no hotel, assistindo ao noticiario. De repente, a programacao foi interrompida e comecaram a mostrar Deli. Uma serie de bombas explodiram pela cidade em partes variadas (uma delas por sinal era onde agente estava passeando ha dois dias atras!). Pelo menos 10 pessoas morreram e outras 50 ficaram feridas, animal.

No dia seguinte, logo que acordei, fui ver as montanhas. Ali, abaixo de nossa varanda, um macaco sentadinho na lage, ao nos ver correu em nossa direcao. O funcionario que passava por ali me puxou para dentro de nosso quarto e fechou logo a porta.

Ja havia lido sobre esta especie de macacos aqui da regiao de Dharamsala e eles sao mesmo super agressivos. Olhar direto nos olhos ou sorrir, sao interpretados por eles como sinais de confronto e eles reagem mal mesmo. Na regiao de Shimla e ainda pior, porque ali eles tambem aprenderam a roubar e, causam a maior dor de cabeca para os funcionarios dos hoteis que toda hora tem que alertar os turistas para nao deixarem as janelas abertas.

Fomos fazer uma trilha ate a cidade de Banghsu, ha dois quilometros de Mcleod.

A trilha e bem facil de ser seguida, ja que a estrada de asfalto cobre a maior parte do percurso. O cenario a nossa volta, sabe aqueles filmes que mostram imagens de monasterios em lugares remotos, perdidos nas montanhas?

Ou onde geralmente o heroi/heroina passa um tempo para adquirir conhecimento e treinar artes marciais para depois virar Kill Bill? Bom, se voce pegou a ideia, era este tipo de paisagem que nos circundava.

Chegamos em Bhangsu em pouco tempo. Passamos pelos banhos publicos. Um grupo de indianinhos que tambem estava turistando pela regiao ao verem o Al ficaram doidos. Pediram se podiam tirar foto com ele e tudo mais e depois de alguns minutos de conversa trocada, sairam de la, super contentes, como se tivessem encontrado com o Beckham!

Seguimos ate a cachoeira de Bamghsu. A trilha para la tornou-se mais estreita, ingreme e tortuosa. Mas a paisagem, com as montanha enfileiradas a nossa frente e aquela vegetacao de um verde tao intenso, estava linda. Aqui e ali, avistavamos umas trilhas ou construcoes de pedra acizentada e grupos de bodes pastando pela regiao.

No caminho de volta, paramos num dos mirantes e ficamos ali observando a paisagem. A natureza por aqui e tao rica e intocada que nao foi muito dificil encontrar aguias, furoes, entre outros animais que livremente circulavam pela vasta regiao.

Voltamos para Dharamsala e jantamos num excelente restaurante japones, bem ao lado do centro de refugiados.A moncao ameacou aparecer novamente, entao voltamos para nosso hotel.

No dia seguinte, visitamos uma das organizacoes de refugiados.

Numa grande sala por detras da loja de artesanatos, varias mulheres teciam tapetes belissimos. O trabalho artesanal da regiao geralmente e feitos por estas organizacoes.

Alem dos tapetes, ha trabalhos maravilhosos em edredons de seda, pecas de vestuario, kimonos, etc. Compramos um monte de coisas e confesso, foi a melhor sessao de compras da minha vida. Alem das pecas serem super bonitas e baratas, voce ainda sai da loja se sentindo bem, por contribuir com esta associacao, que e de extrma importancia para aquelas pessoas.

A noite, fomos conferir um barzinho local, onde estava acontecendo uma ‘Jam Session’. O bar ficava bem na encosta de um barranco e enquanto jantavamos, um estranho barulho comecou a ecoar la fora. Ali da varanda conseguimos avistar as pedrinhas que comecaram a rolar do barranco acima, mas nada de assustador, de principio. Ate que mais e mais pedras comecaram a despencar, algumas ate bem grandes e com tal continuidade que a coisa comecou a parecer mais seria. Embora a certa altura o ‘desmonoramento’ tenha sossegado, deu para sentir o quao instavel e a regiao, com seus predios e vias construidos precariamente ao longo das montanhas, ha cerca de 2000 metros de altura e sofrendo periodos de chuvas torrenciais.

Seguimos de volta a Deli, na tarde seguinte. Foi fantastico ter estado ali, naquele pedacinho de mundo tao particular, tao unico, tao fantastico, que faz com que as dificuldades da viagem ate ali e dali para Deli (pegamos um onibus de volta que levou umas boas 14 horas!) se tornem minimas.


Delhi – 10 -12 th September 2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


A cidade de Deli e uma metropole como Sao Paulo, que engloba varias cidades menores, como Nova Deli.

Cerca de oito cidades de importancia historica concentravam-se ali naquela regiao e,embora nem sempre tenha sido a capital da India, Delhi foi palco de varios acontecimentos historicos do pais, principalmente por sua posicao geografica,entre as colinas Aravalli e o rio Yamuna, que permitia o controle das rotas comerciais que circulavam de noroeste até às planícies do rio Ganges.

A maioria das pessoas quando visitam a India, comecam sua viagem por ali e, imagino, o choque da chegada deve ser tremendo. Embora ja estejamos ha algumas semanas no pais, as vezes tambem nos assustamos, com os absurdos das cenas que as vezes encontramos. Uma delas aconteceu logo que chegamos no bairro de Paharganj, onde a maioria dos mochileiros se hospeda. Estavamos atras de hotel, quando de repente vejo um bezerrinho entrando dentro de um bar. O engracado e que as pessoas la dentro continuaram bebendo normalmente, ninguem ousou tira-lo dali, como se ele fosse um cliente antigo…Ele ali paradinho no bar, me lembrou daquelas piadinhas ‘a vaca entra no bar e…., o cavalo entra no bar e….’ Muito loco.

Ja era meio tarde entao deixamos para conhecer a cidade no dia seguinte.

Assim que amanheceu, fomos ate o centro. Nossa primeira parada foi ate o Dariba Kalan, o bazar das pratarias. Ele na verdade esta bem proximo de varios outros, cada qual com o seu ‘tema’ proprio. Ha o bazar dos cartoes, o bazar dos livros, o bazar de tecidos, etc.

Dali seguimos para a Jama Masjid, a maior mesquita de toda a India. Ela fica numa das partes mais elevadas da cidade e dali e possivel presenciar o formigueiro humano formado pelo conjunto de bazares a sua volta.

Quando descemos, o Al organizou um rickshaw para nos levar ate o Forte Vermelho. Ali no centro, a melhor forma de transitar e com estes rickshaws nao-motorizados, ja que em algumas ruas o acesso a veiculos nao e permitido. Mas da um pouco de pena do motorista que, em sua bicicletinha entrou no acirrado transito local.

Chegamos no Forte e passamos por um intenso sistema de seguranca, tivemos que deixar todos os nossos pertences na chapelaria da entrada.

Caminhamos um pouco pelos jardins e pudemos ver um pouco do que restou  de suas antigas construcoes.

Voltamos no final da tarde para a area de Paharganj e ali, num dos restaurantes no topo dos predios, finalizamos o dia, com uma cervejinha, enquanto assistiamos ao caos nas ruas abaixo de nos.

Ao contrario de Mumbai ou Goa, Deli nao deixou uma impressao muito forte em mim, nem boa nem ruim. Foi como se estivesse estado numa cidade grande, mas que bem poderia ter sido qualquer outra. Constinuamos nossa viagem no dia seguinte, rumo a Mc Leaod Ganj, nos Himalayas.

Agra – Delhi – 10th September 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nao sei se foi por sua historia, ou pela sua magnitude, mas para mim, o Taj Mahal sempre teve uma aurea de surreal sob ele, como aqueles lugares que existem apenas no imaginario, como os Jardins Suspensos da Babilonia. Quando entramos em Agra, ja comecamos ingenuamente a procura-lo e a cada aboboda que viamos nos olhavamos com aquele olhar de ‘sera?’.

Fora o Taj, a cidade nao oferece muitas opcoes turisticas e, por estar ha apenas algumas horas de Delhi, decidimos por apenas deixar as mochilas no locker de um hostel e seguir viagem no final da tarde.

Ja havia ouvido falar que Agra nao e uma cidade muito atraente e, ali conferindo, nao e mesmo. A cidade parece estar em ruinas e tudo beira a desordem, entre suas empoeiradas vias de terra, superlotadas de turistas, rickshaws, animais, casebres bem simples e, varios hoteis.

Fomos seguindo o fluxo de turistas em direcao ao monumento, mas chegando la, decidimos entrar pelo portao do Leste (os outros ficam ao Oeste ou ao Sul, este ultimo e o mais famoso e, com uma fila maior para a entrada). Como todos que visitam o lugar, ficamos perplexos com a discrepancia do valor dos ingressos para turistas e indianos, quase vinte vezes maior.

Atravessamos os jardins da entrada, passamos pelo portao principal, e ali ficamos frente a frente com uma das maravilhas do mundo. Ali em nossa frente, ao final de um estreito espelho de agua que reflete sua imagem, estava ele, o Taj Mahal, provavelmente a mais impressionante obra arquitetonica do mundo.

 

Finalizado em 1653, o Taj Mahal foi construído pelo governante mugal Shah Jahan em homenagem à memória e para preservar o corpo de sua esposa favorita, Mumtaz Mahal que morreu ao dar a luz ao seu 14º filho. A construção do mausoléu levou 22 anos e envolveu 20 mil trabalhadores.

A parte triste da historia veio mais tarde, pois apos alguns anos de sua construcao, Shah Jahan foi desposto por seu proprio filho e imprisionado no Forte de Agra, onde passou os ultimos anos de sua vida, vislumbrando sua obra de arte apenas por uma pequena janela em sua cela.  Apos sua morte em 1666, ele foi enterrado ali, ao lado do corpo de sua esposa.

O branco do marmore refletindo a luz do sol, os contornos perfeitamente simetricos de suas abobodas, figurando sempre o ceu como fundo (um dos requisitos principais de seu projeto inicial), o monumento e de uma grandiosidade tamanha que nao ha como descreve-lo, apenas maravilhar-se e refletir na grandeza dos sentimentos que moveram sua criacao e se materializaram nesta obra prima.

Apos visitarmos o seu interior, seguimos para um dos restaurantes nas redondezas. Muitos deles estao localizados no ultimo andar e possuem mesas no terraco de dali, ainda conseguiamos avistar o Taj Mahal nao muito distante, juntamente com o por-do-sol.

Comecou a anoitecer enquanto jantavamos e um pouco acima do restaurante, um bando de passaros enorme sobrevoava. O bando era mesmo muito grande, pois por varios minutos, eles continuavam passando sobre nos e, com o tempo, comecamos a notar pelo formato de suas asas que na verdade eles nao eram passaros, eram morcegos. E eram enormes.

E olhando para o Taj que ainda era visivel, mesmo na escuridao da noite, com aquele bando de morcegos passando em sua frente, a paisagem tornou-se um tanto sombria, mas ainda fascinante.

Terminamos nosso jantar e seguimos para Delhi e, no comeco da noite chegamos a capital do pais.
 

Jaipur – 09th -10th September 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Pela janela do trem, fomos assistindo as mudancas na paisagem. A vegetacao aos poucos foi se tornando mais e mais escassa, como a evolucao de uma calvicie. Quando entramos no estado de Rajastao, o clima ja havia se tornado arido, o solo de areia carregava pequenos pedacos de vegetacao rasteira e, camelos carregando carrocas.

Jaipur e a capital do estado de Rajastao e tambem a porta de entrada para o deserto indiano. Juntamente com Agra e Delhi, forma o chamado ‘Triangulo Dourado’ do Norte da India, por abrigar grande parte dos suntuosos palacios e monumentos construidos durante o periodo Mugal. A cidade foi praticamente quase toda planejada, durante o periodo do Maraja Jai Singh II, e dai proveio o seu nome ‘Jai’ ‘Pur’ (pur – cidade).

EM 1876, o Maharaja Ram Sigh decidiu pintar a cidade inteira de cor-de-rosa para receber o Principe de Gales, ja que o rosa e a cor da hospitalidade e a cor foi mantida ate os dias de hoje.

Pegamos o rickshaw ate uma das entradas da cidade velha e adentramos por entre o labirinto de vielas que formam um dos seus inumeros bazares, passando por lojas vendendo pedras semi-preciosas alem de muitas lojas de saris. Fiquei tentada a levar um para casa, mas os saris sao enormes, chegando a medir em media 6 metros de extensao! E imagina, aposto que chegando em casa, nao terei nocao de como enrola-lo propriamente.

Apos algumas horas perambulando pelos bazares, nos perdemos, nos achamos, nos perdemos de novo. E, com um mapa na mao, e com apenas um dia para conhecer a cidade inteira, chegamos a conclusao de que nao conseguiriamos ver tudo, pois Jaipur ferve de opcoes turisticas.

Fomos ate o City Palace e ali conhecemos um taxista, que topou nos levar ate os pontos principais por apenas 300 Rupias (por volta de 3,5 libras). O primeiro ponto foi o Iswari Minar Swarga Sal, uma especie de torre (minarete) construida pelo filho do Jai Singh, Iwari (que mais tarde o assassinou).  A subida ingreme e em espiral e um tanto cansativa, mas a vista la de cima vale super a pena, dali consegue-se avistar esta estranha cidade, bem como o Tiger Fort, que fica acima de uma montanha nas proximidades.

Dali passamos a frente do Hawa Mahal, o palacio mais marcante da cidade.  Ele foi construido em 1799 pelo Maharaja Sawaj Pratap Singh, para possibilitar que as mulheres do seu harem pudessem ver dali um pouquinho da vida  la fora, atraves de suas muitas janelas, que assemelham-se a favos de mel. 

Alguns quilometros mais de transito infernal. Ja estamos nos acostumando a este ritmo caotico de suas ruas, desviando de vacas, de rickshaws, de carros, de pessoas, de cachorros e buzinas por todos os lados.

Finalmente chegamos ate o Palacio das Aguas, que era utilizado pelos Marahajas na temporada de caca as aves. Atualmente, cinco de seus sete andares encontram-se submersos no lago que o circunda.

Do lado oposto da rua, uma multidao de pessoas e turistas se aglomeravam. Nos juntamos a eles e dali, de repente, caminhando bem em nossa direcao, apareceu um elefante enorme, carregando um casal de turistas as suas costas.

Em seguida, um rapazinho veio nos oferecer se queriamos dar uma voltinha. Nao resistimos, e subimos nas costas do animal, que lentamente foi nos levando ate a avenida principal.

Estar ali, foi fascinante, e ja valeu o passeio. Mas nao terminou por ali.

Dali seguimos para o Templo do Deus Sol, em Galta, tambem conhecido como Templo dos Macacos. Nosso taxista nos deixou bem na encosta da montanha, a qual o templo esta hospedado ao topo.

O solo de pedras grandes, entre construcoes de ruinas, tinha uma cor meio avermelhada e, tentando desviar das montanhas de esterco no chao, fomos subindo. Os macaquinhos comecaram a aparecer, sem a menor timidez.

Tambem encontramos com varias criancinhas pedintes, que tambem se ajuntaram a nos, e empouco tempo, formavamos um bizarro grupo.

O cenario, ja pelo caminho era um tanto estranho , as casas em ruinas, com os macaquinhos sentados nos seus telhados, assistindo a cidade abaixo. E, se ja nao estava estranho o suficiente, um senhor apareceu em nossa frente, perguntando se queriamos tirar foto com a sua vaca. Recusei e continuei andando, mas so ai percebi que a vaca na verdade tinha cinco pernas, sendo que a quinta saia bem do meio de suas costas! Que lugar louco.

Passamos diversos templos pequenos, onde pessoas bem simples pareciam estar perdidas em seus proprios rituais. De um destes templos, um senhor  aparentando ter problemas mentais, comecou um monologo enorme, olhando direto para mim. Ele falava, falava, sorria, falava de novo e, sem entender o que se passava apressei o passo para chegar logo ao topo.

\Quando enfim chegamos ate o Templo, ja era quase o final da tarde e o sol comecou a se por. Entramos e ali encontramos duas senhoras que nos convidaram a sentar. Elas amarraram uma pulseirinha em nosso pulso e pintaram o ‘terceiro olho’, aquela marquinha vermelha em nossa testa e, claro pediram uma doacao.

No caminho de volta, os macaquinhos ja nos esperavam, ou melhor, esperavam os amendoins que viemos dando no caminho, mas a certa hora, eles comecaram a nos circundar e a puxar a barra da calca do Al e aos poucos foram ficando mais violentos, berrando uns com os outros e vimos que nossa hora ali tinha dado.

Deixamos Jaipur na manha seguinte, fascinados com o que vimos, e sentindo que se tivessemos mais um dia la poderiamos ver muito mais, mas tambem ansioso para chegar em Agra, e finalmente ver o Taj Mahal.

Mumbai – 05th – 08th September 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Meu irmao colecionava ‘comics’ importados. Lembro que num destes haviam algumas historias que se passavam em cidades grandes e, para realcarem a decadencia urbana, os autores as vezes desenhavam um cenario de predios rachados, ratos pelos lixos, mendingos pelas sargetas, pessoas desenhadas como vultos negros perambulando por entre becos.

Quando chegamos em Mumbai, as cinco da manha, foi este cenario que me veio a cabeca. Da estacao, pegamos um trem urbano e, entre vagoes lotados, alguns de pessoas, outros, de uns sacos enormes, chegamos ate a estacao central. Dali, pegamos um taxi, que aqui sao chamados de ‘bumble bee’, pois sao amarelos e pretos, pequenininhos e meio arredondados, parecem mesmo umas abelhinas e em poucos minutos chegamos a area de Colaba.

O taxi nos deixou bem em frente a India Guest House. Chegamos ali meio que sem querer, mas o lugar para nos e historico. Estou lendo no momento ‘Shantaram’, um livro excelente que conta a historia veridica (dizem) do autor, um ex-prisioneiro australiano que fugiu da cadeia e foi cair em Mumbai, onde viveu por varios anos e ali, como no livro, foi o primeiro lugar que ele chegou.

Nao sei se o Gregory Roberts (o autor) teve a mesma visao que nos, mas o predio estava todo forrado por tapumes. A porta de entrada, bem nao tinha porta, era apenas um buraco na parede. Subi as escadas e aos poucos, fui notando que o que estava mantendo as paredes unidas eram ripas de madeira enormes, atreladas umas as outras. As pousadas dos andares abaixo estavam fechadas, provavelmente ja haviam deixado o predio. Conversamos com o gerente e tentamos conseguir um quarto, mas ele queria nos cobrar duas diarias, uma das 6 da manha ate o meio-dia e outra do meio-dia em diante, o que achamos um absurdo.

Saimos pelas ruas de Colaba atras de outro lugar para ficar. Ratos enormes passavam pela rua. Fora de brincadeira, cara, nunca vi ratos deste tamanho em minha vida. Vi o primeiro, vi o segundo, ai desencanei, ali, eu sou a estranha, a estrangeira. Eles estao apenas no habitat normal deles e outra, na India, o melhor e nao procurar, porque voce acha. Acha barata, acha rato, acha umas coisas nojentas.

O ar de Mumbai e outra coisa que ficou na minha cabeca. Kerala cheirava a especiarias, Goa cheirava a haxixe, mas Mumbai…Mumbai cheira a lixo. Mas nao um lixo comum, sei la, tem um odor que e uma mistura, de restos de comida, com urina, um cheiro tao forte, que mesmo depois de senti-lo, ele ainda fica na sua memoria. Ate agora nao consigo esquecer.

Achamos um outro hotel, nas proximidades. O quarto, era o mesmo esquema da India Guesthouse, uma divisao feita com reparticoes, como aquelas de escritorios antigos, sem janela, apenas uma gradinha no topo da parede para nao morrermos sufocados. O banheiro? Coletivo.

Estavamos mortos de cansados entao ficamos por ali mesmo. Descansamos algumas horinhas e quando iamos saindo, comecou a moncao. Pela janela pude assistir a chuva, que comecou de repente, mas com uma intensidade animal e logo as calcadas comecaram a formar pequenos rios.

Sem chances de ela passar tao cedo, assim que a tempestade foi fraquejando, saimos para conhecer a cidade. Das imediacoes de nosso hotel, ate a avenida principal, as calcadas durante o dia ficam lotadas de barraquinhas de camelos e gente vendendo comida na rua. E um transitar de pessoas, rickshaws, cachorros, vacas intenso, e as vezes me pergunto se vim passar as ferias na ’25 de Marco’ em Sao Paulo.

A chuva estava diminuindo mas algumas (varias) pessoas na rua, com jarras na mao, recolhiam a agua que escorria dos toldos. Achei aquilo estranho, mas continuamos nosso caminho ate o Colaba Market.

O mercado e bem simples, com barraquinhas vendendo panelas, artigos para casa bem como alimentos.

Estamos na epoca da celebracao do Deus Ganesh, aquele que tem a cabeca de elefante e, em nosso caminho, varias tendas foram armadas para a adoracao do idolo. Incrivel como com tao pouco, eles conseguem montar um templo, apenas armando a estrutura com bambu, amarrado e a cobrindo com sacos de lixo. Dentro, a imagem do Deus e toda cercada por flores, incensos e oferendas.

Dali, seguimos para o ponto central de Mumbai, o ‘India Gateway’, uma especie de arco de triunfo, que tambem funciona como o ponto  de desembarque de varias balsas para as ilhas proximas.

O monumento foi construido em 1924, para comemorar a visita real do Rei George V as Indias, na epoca em que ainda era conhecida como Bombay (a cidade mudou de nome em 1995, como varias cidades da India).

Os portugueses foram os primeiros europeus a chegar ali e a transformaram em colonia em 1534. Em 1661, eles a usaram como ‘dote’ para celebrar o casamento entre Catarina de Braganca e Charles II, da Inglaterra. Esta por sua vez, ‘arrendou’ a cidade inteira para a Compania Inglesa das Indias Orientais, por meras 10 libras esterlinas por ano!

Bombay, por ostentar um dos mais importantes portos do pais, experienciou um periodo de extrema prosperidade  durante a  Guerra Civil americana, ja que substituiu a America do Norte no fornecimento de algodao para a Inglaterra.

Em 1960, o estado foi dividido de acordo com criterios linguisticos e assim, a cidade tornou-se a capital do estado de Mararashtra e hoje e a mais populosa cidade indiana, com mais de 16 milhoes de habitantes.

A grande populacao deve-se tambem a intensa onda migratoria que existe dentro da propria India, abrigando refugiados vindos das mais diversas areas, acometidos por calamidas como enchentes, secas, ou apenas extrema pobreza.

Muitos deles, como acontece em grandes metropoles (como Sao Paulo) chegam sem ter quaisquer recursos financeiros e a solucao mais obvia e ir para as favelas, que se aglomeram pelos quatro cantos da cidade. Uma unica favela da regiao abriga mais de um milhao de  pessoas!

Saindo dali, fomos ate um templo Jaina, uma religiao anciente da India, onde estava acontecendo um festival religioso. Assistimos um pouquinho da celebracao, onde varias oferendas eram colocadas bem a frente das estatuas de seus idolos.

Seguimos nosso itinerario, e tentamos encontrar a Torre Parsi, que e utilizada pelos praticantes do zoroatrismo como um rito funerario de seus entes queridos. Segundo a religiao, nenhuma parte do corpo humano deve ser desperdicada e desta forma, os corpos nao sao enterrados nem cremados. Sao deixados ao topo desta torre, para serem devorados pelas aves de rapina.

O lugar nao permite a visita de turistas e, desta forma, foi praticamente impossivel encontra-lo, ja que nas redondezas nao encontramos nenhuma sinalizacao, o que foi uma pena.

A noite, voltamos as ruas de Colaba. A regiao toda ferve mais ainda durante a noite, entre turistas, camelos e transeuntes em geral, que a cada passo aparecem ao nosso lado para oferecerem algo diferente….Tenho a impressao que ali, voce encontra o que voce quiser, a qualquer hora.

Chegamos ao Leopolds, um bar local no inicio da noite. O bar povoou minha imaginacao diversas vezes, pois foi palco central de diversas desventuras no livro que estou lendo e, segundo o autor, nos anos oitenta era um ‘hang out’ de ex-pats, traficantes, junkies, e figuras da noite em geral. Atualmente, parece ser o ponto de encontro de fas (como eu) desta otima obra, que caiu no gosto de mochileiros do mundo todo (encontrei muitas, mas muitas, pessoas mesmo lendo o mesmo livro, durante nossa estada na India).

No caminho de volta, as barraquinhas estavam fechadas e os vendedores, dormindo sob elas. Nas calcadas, familias inteiras dormindo tranquilas. Ao ver a expressao serena que elas mantinham em suas faces, comecei a me sentir como se estivesse entrando no ‘quarto’ das pessoas, durante a noite e, acho que de certa forma, estava mesmo.

E ai entendi a cena das pessoas recolhendo a agua das chuvas: provavelmente, e a oportunidade delas de tomar um banho rapido, lavar as maos, ou apenas matar a sede.

Mas apesar da situacao de miseria constante, Mumbai nao e deprimente, pelo contrario, apesar da caoticidade de suas ruas, do exagero de todos os pecados urbanos, a sensacao geral e de que tudo esta no seu lugar certo. E uma sensacao de paz que, confesso, muitas vezes nao senti em lugares mais ‘civilizados’, como Londres. E aos poucos, fui me sentindo parte dali. Nao sei se estou fazendo sentido, mas me senti segura, em paz.

No dia seguinte, fomos conhecer os mercados da regiao, na cidade ha dezenas de bazares, cada qual com a sua caracteristica, escolhemos pelo bazar que vende bijuterias, e seguimos para la.

Quanto mais nos aproximavamos, a aglomeracao de pessoas parecia ser maior. O fluxo era extremamente intenso e a certa altura, fui pega no sentido contrario  e aos poucos, fui me afastando do Al. A sorte foi que encontrei um destes carregadores, que com seus cestos enormes sob a cabeca, nao perdem tempo neste vai-e-vem de gente e, como ambulancias no transito, foi abrindo o caminho para mim.

Nao aguentei. Quando encontrei o Al, dei-me por satisfeita com tudo o que vi e pulamos dentro de um onibus, que lentamente fazia o seu caminho entre aquele mar de pessoas.

Dali seguimos para Chowpatty Beach, nas imediacoes da estacao de Charni Road. Nao estava esperando nadar nem deitar na areia, pois ja havia ouvido falar que o mar e super poluido, ja que varias favelas nas imediacoes o utilizam como banheiro. Mas para passar uma tarde foi uma boa escolha. A pena e que o unico bar na costa estava fechado, entao, fizemos como as varias familias que estavam por ali e paramos nas barraquinhas de comida.

A noite, decidimos ir ate o cinema, ja que estamos bem no coracao da industria de Bollywood, onde mais de 8000 filmes por ano sao produzidos. Infelizmente, nenhum dos filmes em cartaz possuia lengenda em ingles, entao, para nao perder a viagem, nos contentamos em assistir ‘Wanted’.

O filme em si era meio mediocre, mas a experiencia foi um tanto interessante: antes dele comecar, tivemos que ficar de pe, enquanto o hino nacional da India soava nas caixas de som do cinema e, vez por outra, pessoas da plateia dialogavam com os atores.

Ao final, pegamos um dos taxis-abelhinas, que naquele transito, formavam um enxame e seguimos para o hotel.

A manha seguinte, voltamos ao India Gateway e pegamos uma balsa ate a Elephanta Island, uma ilha nos arredores de Mumbai. Na ilha, depois de subirmos uma escadaria enorme, chegamos a um parque, onde varios macaquinhos rodeavam os turistas em busca de comida.

Visitamos as Elephanta Caves que são templos escavados na rocha e uma vez dentro deles, pudemos observar inúmeras esculturas gigantescas de Shiva e Parvati. A mais importante estátua é a Mahesamurti, que apresenta as três faces de Shiva.

O final da tarde, usamos para circular pela cidade, meio que sem destino. Sem querer, caimos dentro de uma favela. Passeamos por entre as vielas, entre os casebres, feitos dos mais diversos materiais. Criancas brincavam pela rua, senhores conversavam em bancos de madeira, mulheres lavavam as roupas em tanques feitos de concreto e, fora um ou outro pedinte que nos abordava, a maioria das pessoas pareciam ocupadas demais com seus afazeres cotidianos para notar nossa presenca.

Voltamos a noite ao Leopolds, para nossa ultima noite na cidade. Ali, conhecemos um inglesinho que estava parcialmente morando em mumbai. Alias, principalmente no estado de Bangalore, varias empresas inglesas parecem estar se estabelecendo no pais, devido a facilidade de mao de obra qualificada e, claro, muito mais barata que na Inglaterra.

Alias, este esta sendo um dos grandes fatores de desenvolvimento economico do pais, que dizem ser um dos maiores mercados emergentes do futuro.

Mesmo com seus pedintes, mesmo com o lixo na rua, mesmo sem as pessoas terem latrinas. A India e mesmo um pais de contrastes.

Goa – Arambol – 31st – 4th September 2008

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O estado de Goa e o menor de toda a India. Os portugueses inicialmente chegaram ali como mercantes, mas aos poucos foram se apoderando do lugar, ate domina-lo totalmente, durante o seculo XVI e ali permaneceram ate 1961, quando GOA foi anexada a India.

Considerando que nao fazem nem cinquenta anos desde sua partida, era de se esperar uma influencia cultural maior. Atualmente, somente os habitantes mais idosos falam o portugues e, apesar de haverem negocios com sobrenomes portugueses, os casaroes coloniais, bem como as igrejas, sao as marcas mais explicitas do seu passado europeu.

No caminho para Arambol, pela estrada de terra, vez por outra cruzavamos uma destas construcoes, e, apesar de parecerem abandonadas, continuam impressionantemente belas, apesar da pintura descascada e jardins abandonados.

Chegamos em Arambol no final da tarde e, logo que deixamos nossas malas, fomos ate a praia. A costa nao e das mais belas, o mar e ate meio lamacento, mas no canto direito ha um lago de aguas doces, como aquele na Praia da Guarda, no Sul do Brasil.

Quando chegamos no lago, alguns turistas circulavam por ali. Alias, a atmosfera em Arambol e bem sociavel, nestes pontos de encontro onde os turistas geralmente vao. Ali na areia, entre mar e o lago, conhecemos Cris, um americano de Tennesse que havia largado a faculdade para viajar pela India. Ali tambem conhecemos a Iada, uma austriaca que havia chegado para trabalhar numa associacao de caridade.

Quando comecou a escurecer, fomos jantar num dos restaurantes na frente da praia. Alias, na praia mesmo, uma vez que as mesas sao sob a areia. Ali, com o ceu super estrelado, a luz de velas, saboreamos um otimo curry de camarao.

Apos o jantar, fomos para o bar vizinho que a noite passa filmes piratas e tem mesas de snooker. Encontramos com o Cris, que estava numa mesa com um alemao, chamado Patrick e dois indianinhos, Raj e Prakesh, da regiao de Manali e ali, entre varias cervejas, passamos nossa primeira noite em Arambol.

Na manha seguinte, depois de tomar um cafe da manha delicioso ali de frente para o mar, seguimos para o lago.

Cris apareceu por la, com um grupo de ingleses e ficamos por ali, conversando, nadando e tentando fugir das vendedoras de bugigangas que nao nos davam sossego. A certa altura, quando estavamos todos dentro da agua, elas sentaram num tronco e ficaram ali, nos esperando sair, embaixo daquele sol forte. Aquela coisa de ‘Discovery Chanel’ mesmo, o predador vai a caca nas proximidades da agua, porque sua presa ira para aquela regiao a uma certa altura…

Quando sai da agua, comprei um colarzinho para ajuda-las, mas assim que fiz isto, umas outras tres me cercaram…Prometi para mim mesma que nunca mais iria fazer isto, pois to ficando com um monte de bugiganga que nao vou usar e ao inves de me deixarem em paz, ai que elas colam mesmo!

Dali, subimos ate uma montanha proxima,cruzando por um pequeno rio.

Ao chegar ao topo, encontramos uma bela banyan tree (figueira) , que parece ser o local preferido dos campistas, o que eu acho uma loucura, pq a area ainda eh super florestal e deve ferver de mosquitos!E, francamente, voce precisa gostar muito de camping para acampar na India, onde o preco da hospedagem chega a 150 rupias (menos de 10 Reais).

A noite, seguimos para o ‘nosso’ barzinho na praia. Ali, encontamos o Cris, Patrick, Raj e Prakesh. Enquanto o Alistair e eles se revezavam na mesa de sinuca, comecamos uma conversa animada sobre os habitos e costumes da India.

Ha algumas semanas atras, um turista briacaco havia tentado arrancar uma cruz do chao, na frente de uma Igreja em Arambol. Inicialmente foi confrontado por alguns locais. A confusao foi atraindo mais e mais pessoas que ao saberem do ‘feito’ do infeliz, resolveram por ali castiga-lo e o lincharam ate a morte, ali mesmo, bem ao lado da cruz.

Linchamentos publicos, crimes por honra, guerras de castas, tudo isto ainda e bastante presente na realidade do indiano. E nao e apenas fofoca de bar nao, comprei uma revista, tipo a Veja e, do comeco ao fim, a revista veio recheada de artigos sobre isto.

Na mesma noite, Raj ao saber que era do Brasil, veio me apresentar o dono do bar, o Joao, de Portugal. Ele era um militar aposentado, que havia vendido tudo em Portugal e imigrado para Goa. Eu ja o havia visto na praia, pois assim que ele pisou na areia, todos os cachorros da praia correram em direcao a ele e comecaram a latir. Fiquei intrigada, mas agora entendi: e ele quem os alimenta!

Tambem nesta noite, conhecemos  um portuguesinho que havia terminado a faculdade em Portugal e decidido fazer mestrado em Goa (!). E havia chegado a Arambol ha tres anos atras, se apaixonou pelo lugar e resolveu ficar por ali. Passamos a noite inteira conversando e combinamos de na noite seguinte ir ate a uma rave. Nao perguntei o que ele fazia para sobreviver em Goa, mas ao ver ele e o Raj conversando sobre o que levariam para a festa, entendi que ele deveria vender drogas.

Nao tenho nada contra drogas leves. Muito pelo contrario. Mas drogas pesadas, cara, ach que sao baixo astral. E na India toda tem uma leva de turistas que vem para ca apenas atras de ‘brown sugar’, heroina. Alguns vem para ca apenas com este intuito, compram o maximo que podem (que aqui e barato) e passam semanas completamente fora de si, para depois voltarem para seus paises, onde retornam as suas vidas normais.

Eu realmente nao vejo o ponto em tudo isto, mas enfim, cada louco com a sua mania.

No dia seguinte, eu, Al, Cris, Patrick e um inglesinho que nao lembro o nome alugamos umas motinhos e fomos explorar a regiao. O caminho ate la foi fantastico, passando por vilas, casebres, campos. Numa destas passagens, Cris derrapou com a moto e teve um pequeno acidente. Os habitantes da vila logo se prontificaram a ajuda-lo, e trouxeram um copo de agua, ja que ele parecia bem nervoso. Ao ver o copo, acho que ele ficou ainda mais nervoso, pois todos os guias de viagens sobre o pais te dirao para ter cuidado com a agua. Tambem dizem que 70% das pessoas sofrem de diarreia nas primeiras duas semanas, mas ate agora nada aconteceu, nem conosco, nem com todos que encontramos no caminho, ja que esta virou uma pergunta tipica entre os mochileiros na India.


Nosso destino era um forte que ficava numa peninsula oposta onde estavamos. Para chegar la, pegamos uma balsa.

O comandante, ali de sua cabine, de repente me chamou para ir ate la em cima. Fui, pensando que dali poderia tirar uma foto e pronto. Ele me chamou e, largando o leme, gesticulou para que eu assumisse o controle. Achando que daria uma bela foto, topei.

Ele entao, de repente se afastou e deixou a balsa sob meu controle total. Apos alguns minutos e, com a foto feita, quiz devolver o leme para ele, mas ele nao aceitou.

Cara, que loucura, nao so dirigi a balsa o caminho inteiro, como tambem


tive que estaciona-la. Gente estes indianos sao loucos!!! Por isto to amando este pais, hahhaa, imagina em nenhum lugar do mundo eles me deixariam fazer isto !!!


Fomos ate o forte (que hoje funciona como um hotel) e na volta, decidimos voltar ate Anjuna, pois toda quarta-feira tem um mercado de rua que e bem conhecido. Eu e o Al estavamos receosos de chegar la e encontrar um monte das vendedoras insistentes da praia, o que seria um inferno, mas enfim, pegamos a estrada para la.


No caminho, avistamos o portuguesinho que conhecemos no bar, empurrando a sua motinho. Achamos que ele estava sem gasolina, por isto, eu e o Al logo paramos e fomos ver se estava tudo OK. Cara, tentar falar com ele era inutil: ele estava completamente fora de si, salivando muito e suando mais ainda. O olhar perdido nao nos reconhecia e nao havia nem a sombra daquele cara bacana e inteligente com quem passamos a noite conversando. Perguntei se ele queria uma agua, mas quando fui buscar, os outros motoqueiros que estavam conosco retornaram para ver porque haviamos parado e, com isto, ele se assustou e continuou empurrando a moto, so que com mais velocidade. Pensei que ele nao queria ser incomodado e fiquei mais tranquila de ver que ele teve o bom senso de empurra-la ao inves de dirigi-la.


Uns dez quilometros mais para frente, encontramos com o Mauricio, (acho que israelense) que tambem conhecemos na noite passada. Gente, ele tava bem numa destas vilas bem simples que passamos, caido no chao, completamente desmaiado, uma de suas pernas estava caida bem no que pareceu ser o esgoto da vila, galinhas passavam pelo seu corpo, as pessoas desviando e ele la caido. Foi chocante. Claro, eles devem ter tomado um ‘smack’ ha alguns minutos atras e agora tavam assim, doidoes. Nunca havia visto alguem ter viagem de ‘smack’ e confesso, nunca mais quero ver: ali, completamente desmaiado, a expressao facial que a pessoa fica eh de terror e nao de paz, quando esta apenas dormente. Alem disto, em viagem voce fica normalmente num estado de alerta meio que constante, nao paranoico, mas sim de cuidado. E ali, caido, qualquer pessoa poderia fazer o que quizesse com ele que ele nem sentiria. Pessimo.

Chegamos em Anjuna, mas infelizmente o mercado ainda nao estava funcionando (somente a partir de OUtubro – Dez), entao fomos ate o Chillies, no final da praia, comer lula a dore.

Na volta, as vendedoras de Anjuna (que sao muito mais hardcore que as de Arambol) cercaram Cris e Patrick e, eles levaram uns bons 20 minutos para se livrarem delas.

No caminho de volta, de longe vimos uma multidao no meio da estrada. Ao nos aproximarmos, pudemos ver o que restou do acidente que havia acabado de acontecer. Duas motos se chocaram, acho que praticamente de frente, ja que nao havia marcas na estrada de pneu, apenas um solitario capacete repousado no asfalto. As motos, ambas, estavam num estado assim, chocante, uma delas, o eixo das rodas, o guidao e a lataria da frente havia tomado o contorno de uma linha reta, a outra, uma destas motinhos de turistas como as que estavamos usando, estava totalmente despedacada.

O impacto, para deixar este estrago todo, deve ter ocorrido numa velocidade alta, o que e estranho, em goa, fora os onibus, a maioria das pessoas dirige com cuidado.

Retornamos nossas motos assim que chegamos em Arambol e fomos jantar. Mais um jantar, com as estrelas, comida deliciosa e barata….Ai, Goa, voce e a minha ideia de paraiso…

Seguimos para o nosso bar, como uma rotina que em poucos dias criamos, encontramos com as pessoas de sempre, Prakesh veio nos chamar para a rave, mas tava um pouco cansada do dia, entao deixei para la. Nem sinal dos meninos que conhecemos na noite passada…

Na manha segunte, arrumamos nossas coisas para ir embora, com o coracao apertado. Passei na loja do Prakesh para me despedir e, recebi a noticia: o acidente que vimos na estrada era mesmo o portuguesinho do bar. Ele havia sido levado para o hospital, sofreu traumatismo craniano e lesoes cerebrais ate o momento tidas como irreversiveis. Os meninos que o visitaram no hospital disseram que ele apenas mexia alguns dedos e nao falava coisa com coisa.

Como uma historia em quadrinho, vi todas as cenas dos acontecimentos, ele combinando com o Raj dasdrogas que iria pegar, ele na estrada carregando a moto, o Mauricio ali caido, as motos destorcidas do acidente e agora, o Prakesh me dando a noticia. Provavelmente, nos fomos as ultimas pessoas a conversarem com ele pelo que parece, ate o final da vida dele.

Acho que quando ele melhorou, ele provavelmente tentou dirigir mas se esqueceu que em Goa os sentidos sao contrarios, como na Inglaterra. Sai de la com uma sensacao pesada no estomago, nos poderiamos te-lo impedido de voltar para a estrada, mas sera que seria suficiente? Acho que nao, pois quem entra nesta onda de heroina, coloca a vida toda na contra-mao, o tempo todo.

Margao – Anjuna – 27 – 30 th August 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Ao ouvir falar sobre a India, o primeiro lugar que me vinha na cabeca era Goa. Alguns amigos haviam estado no lugar e tudo o que me falavam se resumia a uma unica frase: ‘Goa e demais’. Um amigo em particular somente me dizia que era fantastico, sem saber me explicar o por que.

Pegamos nosso trem noturno de Calicut a Goa e, com nossas ‘caminhas-banco’ armadas, aguardavamos pelo jantar. Ate que, senti uma comocao passando perto de minhas pernas, apenas para constatar dois ratos enormes circulavam por entre os bancos. Nao preciso dizer que perdi o apetite esta noite…

Chegamos em Margao, Goa por volta das duas da manha. A estacao estava lotada de corpos, dormentes que deveriam estar aguardando o proximo trem. Uma coisa que estou notando cada vez mais na India e que a qualquer hora, em qualquer lugar, os lugares sao lotados. O segundo pais mais populoso do mundo parece ter sido infestado por humanos, que profliferam em uma escala exorbitante, para dividir entre eles o que ja e escasso e o resultado e a falta: falta comida, falta trabalho, falta saneamento basico, falta condicoes minimas para qualquer ser humano sobreviver.

Fomos ate os ‘pre-paid’ taxis e varios motoristas nos disputavam a tapas. Pegamos um taxi ate um hotel local, ignorando nosso taxista que insistia que iria estar fechado e que deveriamos seguir para o hotel dele…OUtra coisa que estou notando, as pessoas mentem pra cacete pra voce quando voce desce do trem. O hotel estava aberto e ali ficamos ate o amanhecer do dia, quando pegariamos o onibus para Anjuna.

No caminho para la, uma estranha senhora saiu do lugar dela para sentar bem ao nosso lado. Ela empurrou umas sacolas para o colo do Alistair, e veio puxando conversa, mas eu achei a coisa toda meia estranha. ela era meio estranha mesmo e, quando o cobrador chegou, fez questao de pagar nossa passagem.

Fiquei cismada, achei que ela queria alguma coisa, mas assim que chegou a parada dela, ela desceu calmamente e ainda nao entedemos direito o que aconteceu.

Chegamos em Anjuna no comecinho da tarde e, proximo a parada do onibus, paramos num cafe com vista para o mar. Estavamos curiosos para saber como seria a praia ali. Goa tem uma vasta selecao de praias e cada uma tem a sua caracteristica, escolhemos por Anjuna por combinar a melhor praia desta parte da costa como tambem uma agitada vida noturna.

Por isto, ao olharmos pela sacada do bar e ver o rochedo abaixo de nos, nos sentimos um pouco desolados, pois areia mesmo, nao havia muita. De um dos casebres ao lado do bar, um senhor de meia idade parecia ocupado tentando se desfazer de seu lixo, e dali de sua casa, jogava na praia sacos enormes repletos de sei-la-o-que. A certa altura, ele comecou a jogar lampadas fluorescentes, que se estilhacavam ao chegar na areia e fizemos uma nota mental para nao pisar naquele pedaco ate o final de nossa estada.

O al encontrou uma pousada bem legal, literalmente na frente da praia, que nao era nada parecida com o pedaco que vimos quando estavamos no cafe. Deixamos nossas coisas e fomos caminhar na areia. Estamos meio que fora da temporada, pois muita gente nao vem para a India nesta epoca porcausa das moncoes, mas confesso, ou fomos extremamente sortudos ou o global warming as esta extinguindo, porque fora uma noite em Varkala, nao vimos nem sinal das chuvas torrenciais.

Mas de qualquer forma, Anjuna nos pareceu bem mais vazia do que estavamos esperando. Mas sem problemas, a praia e linda e bem no final dela, no canto esquerdo, encontramos um bar otimo, que parece ser o ponto-de-encontro entre os hippies locais, bem como os mochileiros.

Ali, saboreando uma otima ‘sweet lime soda’, assistimos ao por do sol.

O bar, apesar de nao estar assim bombando, estava lotado de uma galera no minimo interessante. Os ‘long stayers’ (como assim sao conhecidos a galera que veio, se apaixonou e por ali ficou) parecem ser formados por pessoas de idades e  nacionalidades diversas.  Muitos estavam calamamente fumando seu baseado, ao som de um excelente trance, esperando pelo sol se por como nos.

A certa altura, um indianinho montadesimo veio nos perguntar se tinhamos haxixe. Com sua camisa de seda preta, com bolas brilhantes e gel no cabelo, parecia totalmente desambientado. O nome dele era Rajel, era de Mumbai e havia viajado para Goa atras de balada, mas estava decepcionado de ao inves dos grandes clubs, encontrar apenas hippies naquela epoca do ano.

Sem tempo a perder, saiu perguntando para o bar inteiro se eles tinham haxixe. A certa altura, um indiano de pele morena, que estava fumando um baseado com os hippies se ofereceu para ir buscar para ele. Rajel deu assim, de cara, 1000 rupias na mao deste cara que ele havia acabado de conhecer. E assim, aguardando pelo indiano, Alistair e Rajel passaram a noite jogando sinuca. E o cara, claro, nao apareceu mais.

Voltamos meio ‘altinhos’ de nossa primeira noite em Anjuna , a mare estava alta e cobriu o caminho pela praia que usamos para chegar ate o bar (que se chama Chillies, by the way). Entao, tivemos que desvendar nosso caminho por tras do bar, no escuro.

Fomos seguindo uma estreita trilha, ate que ela se dividiu em varias outras trilhas menores e, inevitavelmente, nos perdemos.

Avancamos (ou regressamos) no que nos pareceu ser o caminho certo, so entao para cairmos na real de que estavamos cruzando os quintais dos casebres locais. A certa altura, caimos num campo que pareceu estar lotado por grandes formigueiros, ou pequenas montanhas, na escuridao nao podiamos dizer ao certo. Ate que um dos formigueiros comecou a se mexer. Acendi meu isqueiro e vi que estavamos cercados por vacas, deitadinhas no campo, cochilando.

Mais a frente, encontramos um cachorro que nervosamente latia sem parar para nos. Mais para frente, um outro. O Al ia pouco a pouco os enfrentando, pois ele diz que em situacoes como esta, voce tem que mostrar quem e que manda. Mas, quando o um ou dois cachorros foram se agrupando em dezenas, latindo histericamente ao nosso redor, a coisa comecou a ficar complicada. E, mesmo o Al, com a sua tatica de encarar e berrar de volta a nossos agressores, comecou a ficar preocupado. Um deles parecia a ser o lider da matilha e, ‘querendo se mostrar’ comecou a tomar uma posicao de ataque. Parecia que a qualquer momento ele iria voar em nosso pescoco e, se ele fizesse isto, certamente os outros quinze iriam fazer o mesmo. Comecei a suar frio. Mas continuamos caminhando normalmente.

A nossa sorte foi que, aparentemente, saimos do territorio deles e assim que fizemos isto, eles nos deixaram em paz. E, como que por milagre, chegamos de volta ao nosso hotel.

Assim que o sol saiu, fomos ate o centro de Anjuna, para alugar uma ‘Vespa’, ou scooter como aqui e conhecida. Com nosso transporte resolvido, fomos encontrar Rajel na praia.

Pegamos um pouquinho de praia. A distancia, algumas mulheres vestidas com saris coloridos abordavam os turistas, para comprarem bijouterias, artigos para casa e  lencos indianos. Ao longe, com o colorido de seus saris contrastando com o mar e a areia, formavam uma pintura maravilhosa.

Uma garota com um sari co-de-rosa de repente se aproximou de nos. A conversa comecou como sempre’ What is your name, Where are you from?, I have some nice things, Look, Its Cheap…’ Ela se chamava Nadia,  tinha dezessete anos e ja era casada (com um marido escolhido pelos pais) . Perguntei se eles (os pais) haviam feito uma boa escolha e, Nadia, com um triste olhar apenas balancou os ombros. Nao sei se foi para ajuda-la, ou se fiquei comovida com sua triste historia, mas comprei uma tornozeleira, mesmo sabendo que ela estava me cobrando muito mais do que realmente valia.

Quando o restante do bando assistiu a transacao, vieram correndo. E novamente a mesma serie de perguntas, o que acabou se tornando chato. Saimos dali e com nossa moto, fomos conhecer a vizinhanca de Anjuna.

Existe uma infinidade de praias ha uma distancia de 10, 15 quilometros e de moto, da para conhecer a regiao bem em poucas horas, e assim decidir que praia cairemos em seguida.

O caminho ate elas, e simplesmente maravilhoso. Uma pintura, com ricos campos abertos, muitos, muitos coqueiros e ocasionalmente, casaroes portugueses no estilo colonial.

Alias, a impressao que tive e que estou diante de uma das pinturas do Brasil colonial, aquelas com a paisagem, o casarao e um indiozinho aqui e ali. Mas a vegetacao parece ter sido composta em ‘Bald’, ou ‘Negrito’ aquela tecla que deixa as fontes mais intensas.

A vegetacao de Goa e mais intensa, mais selvagem, menos tocada. E, passeando de moto, contra o vento, cara, acho que atingi o nirvana. Fomos ate Vagator, uma praia famosessima pela balada. De outubro a Dezembro, Goa bomba com bons clubs, praias e turistas. Como ainda e muito cedo, a maioria destes clubs estao ainda fechados, o que eh uma pena. Em Vagator, fomos ate um club que mesmo fechado, nos deixou de queixo caido: que puta lugar para se ter uma balada, no topo da montanha, bem acima da praia e do mar, com sua pista de danca a ceu aberto…Pra mim este e ‘THE PLACE” para se fazer uma balada com certeza.

Vagator, bem como as praias vizinhas estavam bem desertas, ainda mais que Anjuna e assim, desistimos da ideia de seguir para la depois. Nesta tarde, visitamos um forte abandonado, datado de 1617, ao topo de uma das montanhas vizinhas a Vagator.

Dali, seguimos para Morjim, que tambem estava deserta. Entramos com a moto na praia e ali, desviando dos pescadores, corremos com nossa moto e a sensacao, cara, foi incrivel. A unica coisa que pensei foi que ‘Life Can’t Get Better Tha This’. E senti isto o dia inteiro. E impossivel nao ficar feliz em Goa. E impossivel. Meus amigos tem razao. Nao tem como explicar. Goa e demais. E ponto final.

Calicut – Wayanad Wildlife Sanctuary – 25 – 27 th August 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Apos cinco horas de viagem de trem, chegamos a Calicut, onde Vasco da Gama aterrisou na India pela primeira vez, em 1498. A Calicut atual, alem da producao de castanhas-de-caju, e tambem famosa pela exportacao de trabalhadores para o Oriente Medio e uma boa parada para aqueles, como nos, que desejam seguir para o parque nacional local.

Fora isto, a cidade nao tem muito o que ver, por isto, logo de manha, pegamos o primeiro dos tres onibus que precisaremos tomar para chegar ao parque.

O caminho para la, foi uma aventura a parte: dentro de um onibus super antigo, fomos passando por entre os campos do estado de Kerala. A paisagem alternava campos de plantacao de arroz,  coquerais, partes do remanso, pequenas vilas, rios, florestas.  A paisagem era simplesmente fantastica. A certa altura, comecamos a subir as montanhas.

O motorista, como sempre, buzinando como um louco, dirigia numa velocidade alucinante. Sentei na parte do onibus reservada para as mulheres, bem na parte frontal do onibus, assistindo a ele, como uma plateia. Ali, de frente para a janela frontal, assistia as ultrapassagens que ele fazia, absurdamente arriscadas,  cheguei a conclusao que se ele batesse, eu provavelmente seria a primeira a ‘ir para o saco’. Entao assim que pude fui para o final do onibus, mas mesmo dali, dava para ver o show que aquele maluco tava dando.

Quando chegamos mais ao alto, a estrada foi diminuindo e, numa altura de mais de 1000 metros,  continuamos a toda velocidade. A cada curva, com o onibus lotado, parecia que iriamos tombar para um dos lados. De repente, um forte estrondo ecoou bem ao meu lado: ele havia batido o degrau da porta de entrada no muro de protecao da estrada.

Mas, sem o menor constrangimento, continuou no seu ritmo normal. Ao ver que as pessoas a minha volta estavam bem relaxadas, fiz o mesmo, afinal ele deve fazer este caminho diversas vezes ao dia e, todo mundo parece dirigir desta maneira.

A certa altura, macacos comecaram aparecer no muro de protecao da estrada. Primeiro um, depois dois, e assim por diante, ate que logo um grande grupo tranquilamente assistia aos carros passarem.

Chegamos nas proximidades do parque durante o inicio da tarde e logo deixamos nossas coisas no hotel. Pegamos dois outros onibus e ali, caimso na real de que nao estavamos certos de como chegar extamente ao parque.

Alguns indianinhos super simpaticos ao nos verem vieram logo puxar conversa e assim, viemos o caminho, trocando informacoes sobre nossos paises, fazendo piadas sobre cricket (que aqui e a paixao nacional). Ao final, um deles nos levou ate o onibus correto e, ao nos colocar dentro do onibus, berrou de fora ‘nao se esquecam de mim’.

E, nao esquecerei mesmo. Fiquei encantada com a generosidade, simpatia, abertura da populacao local, que nos fazem nos sentir em casa, mesmo quando reclamamos da estranheza do seu pais.

Chegamos ao parque e pegamos um dos tours. Apos algumas horas passeando por estradas de terras, avistamos grupos de viados entre a floresta a nossa volta.

Apos alguns minutos, avistamos um elefante pequeno. Nosso guia parou o jipe para tirarmos uma foto, mas rapidamente nos instruiu a voltar para o carro, pois elefantes pequenos sao superprotegidos por suas maes, que provavelmente nao gostariam de nos ver ali.

Com o aproximar do final da tarde, os animais comecaram a se recolher para suas tocas e assim, vimos muito pouco dos centenas de elefantes e dezenas de tigres da regiao.

Mas sai de la satisfeita com nossa aventura e pronta para encarar o onibus de volta que, como era de se esperar, nos proporcionou um show de adrenalina e que fez o caminho ser bem melhor do que a chegada.