Arquivo de setembro de 2008

Margao – Anjuna – 27 – 30 th August 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Ao ouvir falar sobre a India, o primeiro lugar que me vinha na cabeca era Goa. Alguns amigos haviam estado no lugar e tudo o que me falavam se resumia a uma unica frase: ‘Goa e demais’. Um amigo em particular somente me dizia que era fantastico, sem saber me explicar o por que.

Pegamos nosso trem noturno de Calicut a Goa e, com nossas ‘caminhas-banco’ armadas, aguardavamos pelo jantar. Ate que, senti uma comocao passando perto de minhas pernas, apenas para constatar dois ratos enormes circulavam por entre os bancos. Nao preciso dizer que perdi o apetite esta noite…

Chegamos em Margao, Goa por volta das duas da manha. A estacao estava lotada de corpos, dormentes que deveriam estar aguardando o proximo trem. Uma coisa que estou notando cada vez mais na India e que a qualquer hora, em qualquer lugar, os lugares sao lotados. O segundo pais mais populoso do mundo parece ter sido infestado por humanos, que profliferam em uma escala exorbitante, para dividir entre eles o que ja e escasso e o resultado e a falta: falta comida, falta trabalho, falta saneamento basico, falta condicoes minimas para qualquer ser humano sobreviver.

Fomos ate os ‘pre-paid’ taxis e varios motoristas nos disputavam a tapas. Pegamos um taxi ate um hotel local, ignorando nosso taxista que insistia que iria estar fechado e que deveriamos seguir para o hotel dele…OUtra coisa que estou notando, as pessoas mentem pra cacete pra voce quando voce desce do trem. O hotel estava aberto e ali ficamos ate o amanhecer do dia, quando pegariamos o onibus para Anjuna.

No caminho para la, uma estranha senhora saiu do lugar dela para sentar bem ao nosso lado. Ela empurrou umas sacolas para o colo do Alistair, e veio puxando conversa, mas eu achei a coisa toda meia estranha. ela era meio estranha mesmo e, quando o cobrador chegou, fez questao de pagar nossa passagem.

Fiquei cismada, achei que ela queria alguma coisa, mas assim que chegou a parada dela, ela desceu calmamente e ainda nao entedemos direito o que aconteceu.

Chegamos em Anjuna no comecinho da tarde e, proximo a parada do onibus, paramos num cafe com vista para o mar. Estavamos curiosos para saber como seria a praia ali. Goa tem uma vasta selecao de praias e cada uma tem a sua caracteristica, escolhemos por Anjuna por combinar a melhor praia desta parte da costa como tambem uma agitada vida noturna.

Por isto, ao olharmos pela sacada do bar e ver o rochedo abaixo de nos, nos sentimos um pouco desolados, pois areia mesmo, nao havia muita. De um dos casebres ao lado do bar, um senhor de meia idade parecia ocupado tentando se desfazer de seu lixo, e dali de sua casa, jogava na praia sacos enormes repletos de sei-la-o-que. A certa altura, ele comecou a jogar lampadas fluorescentes, que se estilhacavam ao chegar na areia e fizemos uma nota mental para nao pisar naquele pedaco ate o final de nossa estada.

O al encontrou uma pousada bem legal, literalmente na frente da praia, que nao era nada parecida com o pedaco que vimos quando estavamos no cafe. Deixamos nossas coisas e fomos caminhar na areia. Estamos meio que fora da temporada, pois muita gente nao vem para a India nesta epoca porcausa das moncoes, mas confesso, ou fomos extremamente sortudos ou o global warming as esta extinguindo, porque fora uma noite em Varkala, nao vimos nem sinal das chuvas torrenciais.

Mas de qualquer forma, Anjuna nos pareceu bem mais vazia do que estavamos esperando. Mas sem problemas, a praia e linda e bem no final dela, no canto esquerdo, encontramos um bar otimo, que parece ser o ponto-de-encontro entre os hippies locais, bem como os mochileiros.

Ali, saboreando uma otima ‘sweet lime soda’, assistimos ao por do sol.

O bar, apesar de nao estar assim bombando, estava lotado de uma galera no minimo interessante. Os ‘long stayers’ (como assim sao conhecidos a galera que veio, se apaixonou e por ali ficou) parecem ser formados por pessoas de idades e  nacionalidades diversas.  Muitos estavam calamamente fumando seu baseado, ao som de um excelente trance, esperando pelo sol se por como nos.

A certa altura, um indianinho montadesimo veio nos perguntar se tinhamos haxixe. Com sua camisa de seda preta, com bolas brilhantes e gel no cabelo, parecia totalmente desambientado. O nome dele era Rajel, era de Mumbai e havia viajado para Goa atras de balada, mas estava decepcionado de ao inves dos grandes clubs, encontrar apenas hippies naquela epoca do ano.

Sem tempo a perder, saiu perguntando para o bar inteiro se eles tinham haxixe. A certa altura, um indiano de pele morena, que estava fumando um baseado com os hippies se ofereceu para ir buscar para ele. Rajel deu assim, de cara, 1000 rupias na mao deste cara que ele havia acabado de conhecer. E assim, aguardando pelo indiano, Alistair e Rajel passaram a noite jogando sinuca. E o cara, claro, nao apareceu mais.

Voltamos meio ‘altinhos’ de nossa primeira noite em Anjuna , a mare estava alta e cobriu o caminho pela praia que usamos para chegar ate o bar (que se chama Chillies, by the way). Entao, tivemos que desvendar nosso caminho por tras do bar, no escuro.

Fomos seguindo uma estreita trilha, ate que ela se dividiu em varias outras trilhas menores e, inevitavelmente, nos perdemos.

Avancamos (ou regressamos) no que nos pareceu ser o caminho certo, so entao para cairmos na real de que estavamos cruzando os quintais dos casebres locais. A certa altura, caimos num campo que pareceu estar lotado por grandes formigueiros, ou pequenas montanhas, na escuridao nao podiamos dizer ao certo. Ate que um dos formigueiros comecou a se mexer. Acendi meu isqueiro e vi que estavamos cercados por vacas, deitadinhas no campo, cochilando.

Mais a frente, encontramos um cachorro que nervosamente latia sem parar para nos. Mais para frente, um outro. O Al ia pouco a pouco os enfrentando, pois ele diz que em situacoes como esta, voce tem que mostrar quem e que manda. Mas, quando o um ou dois cachorros foram se agrupando em dezenas, latindo histericamente ao nosso redor, a coisa comecou a ficar complicada. E, mesmo o Al, com a sua tatica de encarar e berrar de volta a nossos agressores, comecou a ficar preocupado. Um deles parecia a ser o lider da matilha e, ‘querendo se mostrar’ comecou a tomar uma posicao de ataque. Parecia que a qualquer momento ele iria voar em nosso pescoco e, se ele fizesse isto, certamente os outros quinze iriam fazer o mesmo. Comecei a suar frio. Mas continuamos caminhando normalmente.

A nossa sorte foi que, aparentemente, saimos do territorio deles e assim que fizemos isto, eles nos deixaram em paz. E, como que por milagre, chegamos de volta ao nosso hotel.

Assim que o sol saiu, fomos ate o centro de Anjuna, para alugar uma ‘Vespa’, ou scooter como aqui e conhecida. Com nosso transporte resolvido, fomos encontrar Rajel na praia.

Pegamos um pouquinho de praia. A distancia, algumas mulheres vestidas com saris coloridos abordavam os turistas, para comprarem bijouterias, artigos para casa e  lencos indianos. Ao longe, com o colorido de seus saris contrastando com o mar e a areia, formavam uma pintura maravilhosa.

Uma garota com um sari co-de-rosa de repente se aproximou de nos. A conversa comecou como sempre’ What is your name, Where are you from?, I have some nice things, Look, Its Cheap…’ Ela se chamava Nadia,  tinha dezessete anos e ja era casada (com um marido escolhido pelos pais) . Perguntei se eles (os pais) haviam feito uma boa escolha e, Nadia, com um triste olhar apenas balancou os ombros. Nao sei se foi para ajuda-la, ou se fiquei comovida com sua triste historia, mas comprei uma tornozeleira, mesmo sabendo que ela estava me cobrando muito mais do que realmente valia.

Quando o restante do bando assistiu a transacao, vieram correndo. E novamente a mesma serie de perguntas, o que acabou se tornando chato. Saimos dali e com nossa moto, fomos conhecer a vizinhanca de Anjuna.

Existe uma infinidade de praias ha uma distancia de 10, 15 quilometros e de moto, da para conhecer a regiao bem em poucas horas, e assim decidir que praia cairemos em seguida.

O caminho ate elas, e simplesmente maravilhoso. Uma pintura, com ricos campos abertos, muitos, muitos coqueiros e ocasionalmente, casaroes portugueses no estilo colonial.

Alias, a impressao que tive e que estou diante de uma das pinturas do Brasil colonial, aquelas com a paisagem, o casarao e um indiozinho aqui e ali. Mas a vegetacao parece ter sido composta em ‘Bald’, ou ‘Negrito’ aquela tecla que deixa as fontes mais intensas.

A vegetacao de Goa e mais intensa, mais selvagem, menos tocada. E, passeando de moto, contra o vento, cara, acho que atingi o nirvana. Fomos ate Vagator, uma praia famosessima pela balada. De outubro a Dezembro, Goa bomba com bons clubs, praias e turistas. Como ainda e muito cedo, a maioria destes clubs estao ainda fechados, o que eh uma pena. Em Vagator, fomos ate um club que mesmo fechado, nos deixou de queixo caido: que puta lugar para se ter uma balada, no topo da montanha, bem acima da praia e do mar, com sua pista de danca a ceu aberto…Pra mim este e ‘THE PLACE” para se fazer uma balada com certeza.

Vagator, bem como as praias vizinhas estavam bem desertas, ainda mais que Anjuna e assim, desistimos da ideia de seguir para la depois. Nesta tarde, visitamos um forte abandonado, datado de 1617, ao topo de uma das montanhas vizinhas a Vagator.

Dali, seguimos para Morjim, que tambem estava deserta. Entramos com a moto na praia e ali, desviando dos pescadores, corremos com nossa moto e a sensacao, cara, foi incrivel. A unica coisa que pensei foi que ‘Life Can’t Get Better Tha This’. E senti isto o dia inteiro. E impossivel nao ficar feliz em Goa. E impossivel. Meus amigos tem razao. Nao tem como explicar. Goa e demais. E ponto final.

Calicut – Wayanad Wildlife Sanctuary – 25 – 27 th August 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Apos cinco horas de viagem de trem, chegamos a Calicut, onde Vasco da Gama aterrisou na India pela primeira vez, em 1498. A Calicut atual, alem da producao de castanhas-de-caju, e tambem famosa pela exportacao de trabalhadores para o Oriente Medio e uma boa parada para aqueles, como nos, que desejam seguir para o parque nacional local.

Fora isto, a cidade nao tem muito o que ver, por isto, logo de manha, pegamos o primeiro dos tres onibus que precisaremos tomar para chegar ao parque.

O caminho para la, foi uma aventura a parte: dentro de um onibus super antigo, fomos passando por entre os campos do estado de Kerala. A paisagem alternava campos de plantacao de arroz,  coquerais, partes do remanso, pequenas vilas, rios, florestas.  A paisagem era simplesmente fantastica. A certa altura, comecamos a subir as montanhas.

O motorista, como sempre, buzinando como um louco, dirigia numa velocidade alucinante. Sentei na parte do onibus reservada para as mulheres, bem na parte frontal do onibus, assistindo a ele, como uma plateia. Ali, de frente para a janela frontal, assistia as ultrapassagens que ele fazia, absurdamente arriscadas,  cheguei a conclusao que se ele batesse, eu provavelmente seria a primeira a ‘ir para o saco’. Entao assim que pude fui para o final do onibus, mas mesmo dali, dava para ver o show que aquele maluco tava dando.

Quando chegamos mais ao alto, a estrada foi diminuindo e, numa altura de mais de 1000 metros,  continuamos a toda velocidade. A cada curva, com o onibus lotado, parecia que iriamos tombar para um dos lados. De repente, um forte estrondo ecoou bem ao meu lado: ele havia batido o degrau da porta de entrada no muro de protecao da estrada.

Mas, sem o menor constrangimento, continuou no seu ritmo normal. Ao ver que as pessoas a minha volta estavam bem relaxadas, fiz o mesmo, afinal ele deve fazer este caminho diversas vezes ao dia e, todo mundo parece dirigir desta maneira.

A certa altura, macacos comecaram aparecer no muro de protecao da estrada. Primeiro um, depois dois, e assim por diante, ate que logo um grande grupo tranquilamente assistia aos carros passarem.

Chegamos nas proximidades do parque durante o inicio da tarde e logo deixamos nossas coisas no hotel. Pegamos dois outros onibus e ali, caimso na real de que nao estavamos certos de como chegar extamente ao parque.

Alguns indianinhos super simpaticos ao nos verem vieram logo puxar conversa e assim, viemos o caminho, trocando informacoes sobre nossos paises, fazendo piadas sobre cricket (que aqui e a paixao nacional). Ao final, um deles nos levou ate o onibus correto e, ao nos colocar dentro do onibus, berrou de fora ‘nao se esquecam de mim’.

E, nao esquecerei mesmo. Fiquei encantada com a generosidade, simpatia, abertura da populacao local, que nos fazem nos sentir em casa, mesmo quando reclamamos da estranheza do seu pais.

Chegamos ao parque e pegamos um dos tours. Apos algumas horas passeando por estradas de terras, avistamos grupos de viados entre a floresta a nossa volta.

Apos alguns minutos, avistamos um elefante pequeno. Nosso guia parou o jipe para tirarmos uma foto, mas rapidamente nos instruiu a voltar para o carro, pois elefantes pequenos sao superprotegidos por suas maes, que provavelmente nao gostariam de nos ver ali.

Com o aproximar do final da tarde, os animais comecaram a se recolher para suas tocas e assim, vimos muito pouco dos centenas de elefantes e dezenas de tigres da regiao.

Mas sai de la satisfeita com nossa aventura e pronta para encarar o onibus de volta que, como era de se esperar, nos proporcionou um show de adrenalina e que fez o caminho ser bem melhor do que a chegada.

Quillon – Fort Kochi – 23 -25 August 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Nosso segundo trem foi um pouco mais atribulado que o primeiro e, tenho a impressao que quanto mais ao Norte do pais vamos nos aproximando, gradualmente a coisa ira piorar. Pegamos dois bons lugares, mas quando estavamos prestes a chegar em Cochi, o funcionario veio nos informar que estavamos na classe errada, e deveriamos nos dirigir a ‘classe basica’.

Bom, classe basica, acho que era um eufemismo para o que encontrei a minha frente: em bancos de madeira, vagoes superlotados, imundos, entendi que os trens sao um reflexo da sociedade indiana, e seu sistema de ‘castas’, um dos pilares da religiao hindu e ainda e amplamente utilizado em toda a India.

Segundo ele, como no trem, a sociedade e dividida por categorias, que determinam qual sera a sua profissao e com quem voce ira casar, uma vez que nao e permitido a  transicao de uma categoria a outra. A ‘primeira classe’ e reservada para os sacerdotes hindus (claro, foram eles que criaram este sistema…), professores e filosofos e abaixo de todas as castas estao os ‘dhalits’, ou os ‘intocaveis’, como sao conhecidos por aqui, que sao destinados aos piores trabalhos, como limpadores de rua e de latrinas.

Nao tive coragem de encarar a classe basica, mesmo porque, nao havia espaco fisico para mim e para o Al ficar de pe, com nossas mochilas, naquele confinamento de pessoas. Como faltava bem pouco para chegarmos, demos uma de turistas ‘desavisados’ e voltamos para nossos lugares.

Ate agora, tudo o que escutei sobre a India provou ser verdade, mas a maxima que mais venho encontrando e que ‘voce nunca sabe o que encontrara pela frente’. Saindo dos calmos remansos de Kerala para cair naquela bagunca do centro de Quilon foi um choque e tanto. Por isto, quando chegamos a Cochi e pegamos a balsa para Fort Cochin, deixei a mente aberta para o que der e vier.

E o que veio, foi uma agradavel surpresa. Conhecida como a Rainha do Mar Arábico, Cochi foi um importante centro comercial de especiarias entre romanos, judeus,  árabes, e chineses desde os tempos mais remotos. Uma das primeiras colonias de Portugal na India, a cidade foi mais tarde ocupada por holandeses, e mais adiante, por britanicos.

Fort Cochi, na peninsula sul da cidade e um bau de herancas de culturais, presentes lado a lado, pelos seus quatro cantos.

A arquitetura das casinhas baixas, com varandas antigas, por entre as ruas de paralelepipedo sao uma mistura de Parati com algumas cidades do interior do Brasil, ja que a cidade ostenta varias pracinhas arborizadas, com bancos de concreto e gramado. As ruas do centro sao permeadas com bons restaurantes e lojinhas com mesinhas na calcada e uma gostosa sensacao de calmaria pelo ar. Sem querer, enquanto buscavamos uma pousada, caimos na casa onde Vasco da Gama passou os ultimos anos de sua vida, mas que hoje funciona como hotel. 

Descansamos as primeiras horas e quando a noite chegou, saimos para jantar. Alem dos otimos restaurantes no centro, na area do porto ha um excelente mercado de peixes, onde os pescadores comercializam suas pescas, que podem ser levadas para serem preparadas num dos restaurantes locais.

Compramos umas lagostas, por 2 libras e, ali, nas ruas do centro, sentamos numa das barraquinhas ao ar livre.

Um casal de coreanos estava ao nosso lado, com uma filmadora gigante. Eles estavam preparando um documentario sobre a regiao de Kerala. Apos trocarmos algumas palavras e o al fazer algumas piadas sobre  um filme coreano que assistimos, eles decidiram usar o Al e seus comentarios infames no documentario.

Dali, paramos para uma cervejinha, no unico bar que avistamos na cidade inteira. A cerveja aqui, I’m sorry to say, mas eh uma merda. Jah nao faz muito parte do habito do indiano comum e, depois de experimentar uma das producoes locais, nao os condeno. A cerveja contem preservativos fortes que alem de alterarem o sabor, dao uma terrivel dor de cabeca.

Tambem no estado de Kerala foi banido fumar em lugares publicos. Voce pode faze-lo em lugares fechados, mas nao na rua, um conceito completamente inverso ao ‘smoking ban’ da Europa.

No dia seguinte, fomos fazer turisticagem. Um taxista nos abordou e nos ofereceu de nos levar ate os principais pontos turisticos, por meras cinquenta rupias, uma proposta muito boa para ser verdade. Mas ele tinha um sorriso tao grande e sincero, que aceitamos.

Alias, isto esta acontecendo com agente bastante por aqui, nos estamos nos encantando com a simpatia das pessoas locais, e acabamos nos deixando levar, mesmo se as ofertas possuem um porem. Neste caso, o porem era que alem dos pontos turisticos ele nos levaria a algumas lojas, onde provavelmente receberia alguma comissao por isto.

Mas para ser sincera, nao me importei. Olhar nao custa nada e ja estamos acostumados a nos livrar dos vendedores, pois depois de Istambul, aqui na India isto eh fichinha!

 

 

 

 

 

 

Nossa primeira parada foi numa fabrica de gengibre, onde pudemos acompanhar o tratamento do produto bruto ate a sua finalizacao, quando e embalado e pronto a ser comercializado. Dali, seguimos para a Sinagoga de Pardesi, no distrito judeu, que e um amplo conjunto de vielas, repletos de lojinhas, algumas ainda com fachadas com nomes de proveniencia hebraica.

A Sinagoga em si foi construida em 1568, sendo destruida pelos portugueses em 1662, e reconstruida pelos holandeses, muitos anos depois.

Dali, seguimos para o Palacio Holandes, o Mattancherry Palace, que foi construido pelos portugueses em 1555,e presenteado ao Raja de Cochin. Ali encontramos uma interessante cronologia historica sobre a regiao alem de murais antiquissimos, com pinturas que retratam cenas extraidas do Mahabharata, o epico anciente indiano, que foi uma das bases para o hinduismo . Alguma coisa me diz que tais escrituras parecem ser muito mais interessantes do que outros livros religiosos, pois retratam figuras mitologicas em aventuras epicas onde encontram seres magicos, lutam com dragoes e se engajam em batalhas homericas.

De la, fomos ate o Indo-European Museu, mas confesso que o conteudo historico do palacio foi muito mais interessante. Satisfeitos com o nosso tour, nos depedimos de nosso motorista e passamos a tarde caminhando pela cidade.

Chegamos a Igreja de Sao Francisco, construida por jesuitas em 1503 e uma das mais antigas construcoes europeias na India. Ali tambem esta enterrado o corpo de Vasco da Gama. A influencia jesuita na regiao explica o alto numero de catolicos,  convivendo lado ao lado com hindus, muculmanos e judeus.

Voltamos a regiao do porto e, na luz do final da tarde, pudemos vislumbrar (e nos maravilhar) com as famosas redes pesqueiras de Cochi, uma heranca de sua interacao com chineses e tambem um dos cartoes postais da cidade.

As redes sao impressionantes, e de longe, assemelham-se a grandes aranhas. O mecanismo para mergulha-las e ica-las exige os esforcos de pelo menos quatro homens que, com a modernizacao de tecnicas de pescagem, compromentem sua utilizacao.

 

 

 

 

Passamos a noite estudando nossa proxima rota. Nao muito distante de onde estamos, existem alguns parques nacionais, onde e possivel fazer alguns tours, a procura de elefantes, tigres e outros animais selvagens. Decidimos ir conhecer o Wayanad Wildlife Sanctuary, nas proximidades de Calicut.

E para la nos dirigimos, logo no comeco do dia.

 

Varkala – Quilon – 22 – 23 August 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alem de ostentar o menor indice de analfabetismo e mortalidade infantil do pais, o estado de Kerala ainda esconde algumas ‘joias’. Uma delas, sao seus famosos ‘remansos’: um labirinto de canais e lagos interligados que cortam pequenas vilas e plantacoes de arroz e cha. 

Em Quilon e possivel alugar um barco ou canoa e fazer o tour por entre os canais. Pensando nisto, assim que acordamos, fomos ate a estacao de trem de Varkala.

Chegando ali, pegamos nosso primeiro trem na India. A viagem ate Quilon e relativamente curta, entao pegamos um vagao normal e, confesso, estava esperando o pior.  As estacoes sao precarias, com pedintes na porta e filas enormes. Os trens assustam por fora, por serem velhos, sujos e parecem ter pouca ventilacao. Por dentro, apesar da escuridao, ate que nao sao tao ruins e conseguimos dois bons lugares, proximos a janela.

A viagem ate la foi bem agradavel, pela janela, a paisagem era linda, com campos e coquerais ensolarados. De tempos em tempos, um funcionario passava vendendo ‘chai’ ou comida, em forminhas de aluminio. As pessoas compravam, comiam e jogavam a forminha pela janela.

E, nesta hora, olhando para o lado de fora, notei quantos trens, quantas forminhas, ja tinham passado por ali. E um contraste tremendo naquela bela paisagem, montanhas de lixo se amontoando a cada trem, mas parece ser  mais uma questao cultural, os lugares normalmente nao teem cestos e jogar lixo na rua aqui e normal. Tambem, pelas vilas que fomos passando no caminho, o fundo das casas parece ser um armazenamento de restos de comida, embalagens, garrafas plasticas, etc. Caminhoes de coleta nao fazem parte do cotidiano destas cidades e a maioria deste lixo todo e queimado nos fundos da casa mesmo.

Chegamos em Quilon no comeco da tarde.

Pegamos um rickshaw na estacao, em direcao ao porto.
Os rickshaws sao um meio de transporte bem comuns por aqui e o transito, bem, e uma aventura a parte. As vias nao fazem sentido e a lei que rege parece ser a de quem chega primeiro. Ou buzinar mais. Ou os dois, porque buzinar aqui e uma constante.

 

 

Comecamos nosso tour no que pareceu ser um imenso lago de aguas paradas, cercado por vegetacao natural.

Em certo ponto, o barqueiro entrou por uma estreita passagem e ali, fomos adentrando na ‘Veneza de Kerala’, passando por varios casebres, bem simples, templos, plantacoes de cha e reservatorios para a criacao de camarao.

 

 

Fizemos algumas paradinhas durante o trajeto, na primeira delas, visitamos produtores de corda, feitas de fibra de coco. Numa area coberta, mulheres de idades variadas trabalhavam num monte de fibras, extraidas da fruta. Elas pareciam estar separando a fibra de outras partes, para entao poder tranca-las, unindo assim os fios, no formato da corda.  

 

Seguindo adiante, fizemos nossa segunda parada, numa das vilas locais. O dono de um dos casebres nos convidou para entrar. A casa era toda de madeira, amarrada por cordas e chao de terra batido. O proprietario abriu dois cocos e, enquanto bebiamos, ia nos mostrando sua plantacao de pimentas, gengibre, abacaxi, papaia, etc. 

No final do tour, decidimos passar a noite em Quillon, e seguir para Cochi no dia seguinte. Pegamos um rickshaw ate o centro, encontramos um hotel proximo a estacao de trem e fomos procurar algo para jantar.

 Quilon, alem do remanso, tambem e famosa por ter sido um dos mais antigos portos de comercio no Mar da Arabia e, num passado distante foi uma das principais zonas de comercio entre romanos, arabes, chineses e mais tarde, portugueses, holandeses e ingleses, atras das especiarias e tambem da castanha-de-caju, ricamente produzida em toda a regiao.

As ruas sao dominadas por comercios e pequenos mercados. O transitar de pedestres e intenso e o contraste com a calmaria de seu remanso e gritante.

Nao havia comido nada o dia inteiro e, caminhando pela Alappuzha Rd, saimos a caca de um bom restaurante. O primeiro que passamos nao pareceu muito convidativo, com suas paredes escurecidas, azulejos rachados, iluminacao escassa e varios clientes, digamos, um pouco estranhos.

O segundo era pior que o primeiro. O terceiro, idem. Somente quando cheguei no quarto, que me dei conta que por ali, o esquema era esse mesmo e ou sentava e comia sem reparar a minha volta ou ia passar fome.

Ainda temos um mes de viagem pela India e, tenho a impressao que terei este dilema novamente.

Entao, para resolver de vez com esta questao, entramos num destes restaurantes. Eles na verdade sao chamados de ‘working man’s diner’ pois sao utilizados pelos trabalhadores locais ao termino de seu dia. Ali saboreamos um ‘thaly’ , uma selecao de diversos molhos diferentes, geralmente a base de vegetais, servidos com uma porcao de arroz e roti (pao indiano) e, confesso, foi muito melhor do que estava esperando.

E ali vi o quanto somos influenciados pelo visual e esquecemos as vezes que e o resultado que realmente importa. Num pais onde 65% da populacao esta abaixo da linha da pobreza, ter o que comer realmente e um luxo. 

India – Varkala – 19th – 22nd August 2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Duas horas da manha, duas noites sem dormir. Desembarcamos no aeroporto de Trivandrum e, sem passar por nenhum saguao, ja saimos do aeroporto, de encontro a uma centena de rostos que se amontoavam na saida. A calcada, ou pelo menos o que restou dela, era apenas alguns resquicios de concreto, o resto, estrada de terra. Fui procurar um banheiro, e ali, realmente aterrisei no fato de que estava na India: dentro de uma casinha de concreto, sem papel higienico, sem luz, sem vaso…(os banheiros sao de fossa seca).

La fora, um amontoado de pessoas, barraquinhas de comida, taxistas e de repente avistei o Al, cercado por uns seis indianinhos baixinhos. Por uns instantes, parecia que ele tinha sido capturado! Na verdade, eles eram taxistas e queriam nos garantir como seus clientes. Acertamos o preco com um deles e seguimos rumo a Varkala, num carro que deveria ter mais ou menos a minha idade.

O motorista seguiu quieto o caminho inteiro. Estava escuro, as ruas pouco iluminadas nao permitiam que visualizassemos aonde estavamos e, por um instante pensei, imagina, este cara pode levar agente para onde ele quiser e nao iremos nem notar…Bateu um panico rapido, principalmente porque estavamos viajando com o dinheiro da venda van na carteira! E quatro passportes (temos dupla cidadania)….Mais alguns dolares, nossa agente deve valer uma graninha, se este cara decidir nos assaltar!

Chegamos na praia, o motorista desceu, tirou nossas malas do bagageiro, gruniu ‘Varkala’ e ali nos deixou.

Ja fiz algumas viagens na minha vida. Ja passei por alguns lugares estranhos. Mas foi a primeira vez que tive a sensacao ‘Where da fuck am I?’

Eram umas quatro da manha e, mesmo neste horario, algumas pessoas se aglomeravam na praia. Ali, um senhor vestido com um sarongue laranja, o corpo pintado com marcas brancas, sentado na areia e cercado por velas, parecia estar num estado de transe, mesmo estando com os olhos abertos.

Muitas pessoas o assistiam, tomando o que pareceu ser um cha. Quando chegamos, sem querer, divergimos a atencao para nos, e fomos cercados por dezenas de olhares. Nunca havia reparado como os olhos dos indianos sao intensos, grandes e bem desenhados. E, na sombra da fogueira, com o contraste da pele escura, olhando diretamente para nos, tornaram-se ainda mais intensos. A primeira reacao foi a de querer sair dali na hora. Mas, para onde? Onde e que nos estavamos? 

Aos poucos, algumas pessoas foram se aproximando e nos dando algumas coordenadas para chegar ate a area dos hoteis. Subimos uma pequena montanha e logo chegamos a uma praca central e dali, conseguimos ver a area comercial de Varkala, com as lojas e hoteis todos fechados naquela hora da manha.

Sem opcoes e exaustos, deitamos num dos bancos da praca. O Al caiu no sono, eu ainda estava receosa de dormir com toda nossa bagagem ali, fiquei assistindo o mar, que quebrava em ondas fortes no rochedo abaixo de nos.  

Uma densa neblina caia sobre ele. Quando comecou a clarear, o mar e o ceu adiquiriram uma cor lilas e no meio da neblina, alguns vultos negros comecaram a tomar forma. Eram os pescadores voltando do mar. Ja deviam ser umas seis da manha e a cidade aos pouquinhos foi acordando.

Aproveitei e fui procurar hotel para ficar. Tinhamos um mapa e algumas indicacoes. Achamos um lugar bacaninha, de frente para o mar, por 250 rupias (por volta de R$12), mas ja fomos avisados, nao tem agua quente, ja que em Kerala a energia eletrica e super cara e escassa.

Quando o dia clareou fomos conhecer Varkala melhor. A praia fica bem abaixo da montanha onde estavamos. Uma estreita via para pedestres corre rente ao penhasco e faz passagem para os restaurantes, hoteis alem de institutos de ioga, massagem e meditacao.

Coqueiros e mato intercalam-se com trechos de terra vermelha. E no ar… Bem, uma das caracteristicas que achei mais marcante na India ate agora e que ela cheira. Sempre cheira a alguma coisa: as vezes, sinto cheiro de especiarias, outras vezes de incenso, de madeira queimada, as vezes de urina, as vezes de fezes, ja que a maioria das casas no pais nao teem latrinas.

Tomamos nosso primeiro cafe da manha, num dos restaurantes com vista para o mar, e aquela historia de que na India voce vive que nem rei gastando pouco, e pura verdade. Uma refeicao media custa por volta de R$10 (para dois) ou 2, 3 libras esterlinas e as opcoes sao variadas, ja que alem da cozinha indiana, a maioria dos lugares tambem oferece pratos continentais. E muitos sucos naturais, feitos ali na hora, como no Brasil!

Descansamos na parte da tarde e a noite, nos juntamos aos diversos turistas que jantavam ali nos restaurantes do penhasco. Em alguns deles, pescadores exibiam na entrada sua coleta do dia, atum fresco, camaroes enormes, lagosta…

Se, enquanto estavamos mochilando pela Europa, tivemos que ficar de olho para nao estourar o orcamento, na India foi onde decidimos chutar o balde e fazer tudo aquilo que tivessemos vontade. E desta forma, passamos os proximos dias, acordando com o barulho das ondas, tomando cafes-da-manha espetaculares, aproveitando a praia, fazendo ioga a ceu-aberto, tomando coqueteis elaborados durante a noite, seguidos de pratos-de-fruto do mar fresquissimos.
Ainda tivemos o luxo de comprar roupas feita sob medida, com o tecido que escolhemos.

Num destes rompantes de ‘spoil yourself’, decidi fazer uma sessao de massagem ayuredvica. O tratamento consiste em sessoes de massagem, com oleo aquecido, imerso em ervas e plantas, abundantes na regiao. Desde quando estavamos em Sofia, estava com uma dor terrivel na regiao lombar, e vim o caminho todo ate ali a base de Aspirina. Nao sou uma seguidora de medicina alternativa, mas por incrivel que pareca, naquela unica sessao, meu problema foi imediatamente resolvido, como que por magica.

Apos o tratamento, fui esperar o Al num bar local. No terraco, olhando o mar, consegui entender o por que tantas pessoas vem para India atras de ‘iluminacao espiritual’. Embora nao seja uma delas (cheguei aqui por curiosidade e tambem porque estava passando perto!!!), entendo a razao de ser desta causa. O pais tem mesmo algo de diferente, algo que te faz rever valores e filosofias de vida. E, depois do choque inicial de nossa chegada, fomos invadidos por uma sensacao constante de paz e bem-estar e, acho que estamos comecando bem, na descoberta deste novo pedaco de mundo.
 

 

Sharjar – 18th August – Monday 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

 

 

 

 

 

 

O slogan da Air Arabia diz assim: ‘Fly cheap. Fly More’. E nao poderia ser acurado. Realmente voamos barato. E realmente voamos mais porque em nosso voo para India tivemos que fazer uma escala de quase 10 horas em Sharjar, nos Emirados Arabes. 

Estavamos exaustos da viagem e, para espantar o sono, fomos ate o centro da cidade. No caminho,  entre grandiosas mansoes, algumas construcoes sendo erguidas.

Entre o solo escavado, areia, muita areia.  O clima era seco, arido. O ar pesado, o sol, gritante. Claro, se despirmos Sharjar de seu asfalto e construcoes, o que sobra e deserto.

Para mim, deserto tambem esta associado a ideia de inabitavel e, se nao fosse pelo petroleo, nao vejo como uma sociedade poderia estar sobrevivendo ali. Eu pelo menos, nao ia durar um dia. Sabe aquela sensacao de areia quente da praia? Entao, ali senti o mesmo, so que ao inves do ardor vir dos meus pes, estava vindo de cima. 

Corremos para o primeiro shopping center que encontramos e ali, tentamos encontrar algum cafe, para relaxar por algumas horinhas, mas foi em vao, apenas varias lojas vendendo burkas estilosas (!), algumas ate com griffes famosas.

Entre os transeuntes, familias se revezavam entre as diversas lojas, compondo um cenario estranho: geralmente o homem seguindo na frente e as mulheres, cobertas de preto de cima abaixo, seguiam passivamente atras.

 

 

 

Olhando de longe, a paisagem para mim, estrangeira, foi dramatica, os vultos de preto sao inexistentes no cenario, como um photoshop malfeito, onde as imagens sao retiradas grotescamente, deixando apenas sombras. E assim sao elas, as mulheres de Sharjar, sombras de seus maridos, pais, irmaos.

E, quando estava comecando a sentir pena deste modo de viver que elas tem (ainda mais neste calor insuportavel), uma senhora de burka se aproximou de mim e me chamou a atencao por estar de jeans e camiseta. E ai entendi que este modo de vida e estranho para mim, nao para elas. E, para me ambientar, tirei a unica ‘vestimenta’ que tinha na mochila: um cobertor da Air Arabia que ‘emprestei’ do aviao, e usei como xale.

Corremos para outro Shopping Center, desta vez, um que nos pareceu mais ocidentalizado. Encontramos um cinema, e, ainda com umas 6 horas para matar, assistimos filme apos filme! No ar condicionado, com meu cobertorzinho, foi perfeito!

O primeiro filme foi ‘Tropical Thunder’, uma excelente comedia do Ben Stiller. O segundo, ‘A Mumia 3’, que nos fez pensar o que era pior, o filme ou o calor de Sharjar, optamos pelo segundo e voltamos para o aeroporto.

Bye Sharjar! Espero nao te ver tao cedo!!!

Istambul – Friday – Sunday – 15th – 17th August 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Quando nosso onibus chegou na estacao de Sofia, tivemos uma otima surpresa, ele era bem mais confortavel do que estavamos esperando: poltronas espacosas reclinaveis e o melhor, estava bem vazio.

La pela meia noite, cruzamos a fronteira entre a Bulgaria e Sofia. Do outro lado da estrada, uma fila quilometrica de carros e caminhoes passavam pela checagem de passaportes. Ali e o principal ponto de transicao terrestre para a Europa, e o fluxo, mesmo naquela hora da noite era super intenso.

Um pouco a frente, tivemos que passar pela policia federal turca. Todo mundo teve que descer do onibus, com toda a bagagem, e numa fila, aguardavamos o policial, que olhando em nossos olhos, escolhia aleatoriamente as pessoas a serem revistadas. O clima era um tanto tenso, e me lembrou o notorio filme ‘Expresso da Meia Noite’.

Alias, falando nele, dizem que o seu titulo na verdade veio de uma expressao que era utilizada pela policia turca, que, sem condicoes financeiras para condenar e manter prisioneiros de outros paises, apenas retia seus passaportes, ate o julgamento, ‘deixando escapar’ informacoes sobre o trem, que saia a meia noite para a Grecia.

Dali, seguimos para Istambul e la pelas cinco da manha, chegamos na estacao. O motorista nos transferiu para um microbus e aos poucos, ia parando e deixando os seus passageiros. Nao estavamos certos de onde deveriamos descer, e eu, o Al e o Sam, um americano que conhecemos no caminho, confusos, continuamos no onibus.

La pelas seis da manha, chegamos nas proximidades do centro. Pegamos nossas mochilas e iamos seguindo viagem, quando o motorista comecou a falar um monte de coisas em turco, aparentemente ele queria dinheiro, por ter nos deixado mais ao centro. Nao tinhamos notas pequenas, apenas moedas que sobraram dos paises que passamos e, assim, demos nosso trocado para ele, que se contentou em levar um monte de moedas romenas, que nao deveriam valer mais que 5 Reais.

Continuamos em direcao a Sultanahmet, o distrito onde a maioria dos pontos turisticos e albergues da juventude se concentram. Em nossa caminhada, com o amanhecer do dia como cenario, esbarramos com os fundos da Mesquita Azul, sem querer.

Ali, de frente para aquele monumento, naquela hora do dia, tive a sensacao de que voltamos no tempo, quando Istambul ainda era Costantinopla, ha mais de mil anos atras.

Continuamos passando por estreitas ruas de paralelepipedos e casas de madeira, ainda reminiscentes do periodo do Imperio Otomano, uma viagem no tunel do tempo!  Atravessamos patios e mini-bazares, com muitas lojinhas de tapetes e antiguidades, ainda adormecidas. Ate que chegamos na parte antiga de Sultanahmet, nas proximidades do Mar de Marmaris.

Ali em especial, parece ser o reduto dos mochileiros, com uma sequencia de albergues, hospedados em predios de tres ou quatro andares, com bares abertos na cobertura, com vista para o mar, e restaurantes no nivel terreo, com carpetes na calcada, almofadoes e narguiles.

Encontramos um bom hotel por ali, e nos despedimos do Sam. Tiramos algumas horinhas de descanso e fomos explorar a regiao. Nossa primeira parada foi na Mesquita Azul, que leva este nome devido a coloracao de seus mosaicos internos. Na regiao onde se encontra, bem de frente a ela, esta a Aya Sofia, construida na epoca de Justiniano,  e com o intuito de figurar como a mais bela das Basilicas catolicas do mundo.

Quando Constantinopla foi dominada pelos turcos otomanos em 1453 DC, a Igreja foi convertida em mesquita, como aconteceu com varias igrejas da cidade. Atualmente, funciona como um museu.

A Mesquita Azul por sua vez, foi construida no periodo do Sultao Ahmed, no mesmo terreno onde constavam o palacio dos Imperadores do periodo Bizantino. O intuito era o de se criar uma mesquita ainda mais magnifica que a Aya Sofia.

Se a beleza e imponencia da Mesquita impressiona de fora, por dentro ela e ainda mais fascinante, toda decorada de cima abaixo por mosaicos de azulejo azul, com belos vitrais.

 

Saimos de la e fomos conhecer um dos famosos bazares turcos. Chegamos ate o Grand Bazaar sem maiores dificuldades, e ali, nos perdemos entre seus estreitos labirintos. Os bazares sao um espetaculo a parte: dezenas de barraquinhas vendendo de tudo, desde de joias, especiarias, ate roupas e claro, muitos tapetes. 

Fomos interceptados por varios vendedores locais que, com um simpatico sorriso e as palavras magicas ‘Hey My Friend’ tentavam nos engajar em suas praticas comerciais. Alias, acho que na Turquia, eles teem os melhores vendedores do mundo e o poder da barganha, parece ser um esporte nacional, praticado com gosto nas ruas de Istambul.

Empolgados com a atmosfera do local, aceitamos o convite de um dos comerciantes para conhecer sua tapecaria, o que provou ser uma experiencia, no minimo interessante, ja que aos poucos, ele foi nos cercando de tapetes maravilhosos, enquanto contava um pouco sobre as caracteristicas e as vilas onde haviam sido confeccionados.

Realmente, eles parecem obras de arte, mas, como explicamos para o vendedor, levar um tapete destes na mala, em nossa longa viagem, somente se ele voasse!!!!

Terminamos o dia com uma cervejinha num dos bares do distrito onde estavamos hospedados. A noite estava linda. Pela rua, os bares, com suas calcadas cobertas com carpetes e almofadoes, estavam lotados de mochileiros.  A certa altura, a luz acabou no bairro inteiro, mas sabe como e ne?

Mochileiros nao desanimam com quase nada, e assim continuamos por ali, iluminados apenas por velas, o que deixou a atmosfera ainda mais de ‘Mil e Uma Noites’. 

No dia seguinte, ainda estavamos sem energia eletrica (e ninguem sabia nos informar o que havia acontecido).  Tomamos rumo destino ao Topkapi Palace,  a residencia oficial dos sultoes desde 1462 quando foi construido ate o seculo XIX.  O palacio na verdade e um complexo gigantesco, que faz o Buckingham Palace parecer um simples casebre. Ali, entre vastos jardins, palacetes e livrarias, tambem esta um complexo com 400 quartos, que era utilizado como ‘harem’.

Visitar o palacio e uma experiencia que merece algumas boas horas, pois alem de gigantesco, ele tambem hospeda algumas interessantes exposicoes, como por exemplo, parte do tesouro de seus sultoes.

Tambem, numa alcova especial, estao reliquias religiosas que antigamente estavam em Mecca, mas que com o aproximar da Primeira Guerra Mundial, foram recolhidas pelo Sultao, em ordem de protege-las (mas que nunca foram devolvidas). 

Entre elas, estao o cajado de Moises (aquele que dividiu o mar!), fiapos da barba do profeta Muhamed, bem como um de seus caninos.

 

Pegamos o bondinho e viajamos no tempo para conhecer a Istambul atual. Fomos ate a area de Beyoglu, com seus restaurantes e modernos cafes que transmitem a impressao de estarmos dentro de uma outra cidade.

Voltamos caminhando, e assim que cruzamos a Ataturk Bridge, o dramatico entoar do chamado das mesquitas alertavam os fieis a fazerem suas preces, tornando-as distintas na paisagem.

A Yeni Camil, uma das maiores da cidade, estava bem a nossa frente, seguida por outras menores, mais distantes na paisagem porem numerosas. O cantico pareceu ser bem coordenado, iniciado pela maior, seguido pelas demais e tornou o cenario daquele grupo de mesquitas ainda mais fascinante.

Passamos pelo Mercado de Especiarias e retornamos a nosso distrito que, pra variar, ainda estava sem energia eletrica…

O dia seguinte, utilizamos para fazer um tour rapido pela costa do Mar de Marmara, pois a noite comecamos nossa longa jornada em direcao a India. O tour na verdade acabou levando duas horas, e pra ser sincera, foi bem sem -graca. Na volta, paramos para almocar nas proximidades num dos restaurantes-barcos ali do porto. Na verdade, nos barcos ficam apenas a cozinha e as mesas, na lage a sua frente. Mas sao engracadissimos, pois o mar muitas vezes se agita bastante e os cozinheiros dao um show, cozinhando balancando fortemente de um lado para o outro!

 No final do dia, seguimos para o aeroporto. Adorei Istambul, com toda a sua estranheza e fascinante historia. Estar aqui, no palco de tantos acontecimentos importantes de nossa historia, foi emocionante, e quero muito um dia voltar aqui! Inshalla!

Sofia – Thursday 7th – 14th August 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Depois da Europa, nossa proxima parada sera na India. O unico detalhe e que nos ainda nao temos visto para la, so para voces terem uma ideia de quao preparados nos estamos!

Fizemos uma pesquisa com os Consulados em nossa rota, e Sofia nos pareceu a melhor opcao, embora ja estejamos preparados para uma espera que pode levar semanas ate o visto sair.

 

Chegamos na cidade e fomos logo atras de acomodacao.

As primeiras impressoes que tivemos, alem da dificuldade do idioma, que agora alem de diferente, usa um outro alfabeto, e que a cidade parece ser um bom lugar para hang around’, ou seja, circular, sentar num cafe, e deixar a vida passar.

 

A cidade estava lotada de mochileiros que, como nos, corriam de hostel a hostel, procurando vaga. Finalmente encontramos um hotelzinho bacana, bem proximo ao centro, e com um mapa da cidade na mao, fomos ate o Consulado da India.

O predio ficava bem do outro lado da cidade, mas conseguimos encontra-lo, semmaiores dificuldades. Assim que chegamos, preenchemos o formulario de solicitacao e fomos chamados para uma entrevista com o consul.

Ao ver nossos passaportes, o consul imediatamente fez a pergunta que temiamos: ‘Por que so agora voces decidiram aplicar para o Visto? Por que nao o fizeram de seus paises de origem? Nos apenas lidamos com cidadaos da Bulgaria. Voces terao que voltar para Londres.’

Esta ultima parte, quando escutei, me deu um frio na barriga. Depois de todos estes 7000 km que rodamos com a Van, mais os trens todos que pegamos, voltar e uma palavra que nao consta no meu dicionario no momento.  Nem do Al.

Trocamos olhares, respiramos fundo e, comecamos nossas desesperadas argumentacoes, que tornaram-se suplicas, apos algum tempo. Sensibilizado, Mr.Patel decidiu avaliar nossa aplicacao. Mas disse que levaria pelo menos uma semana para poder processa-la. Pelo que senti, ele foi com a nossa cara, ele ia dar o Visto, mas nao queria que pensassemos que seria facil.

Deixamos nossos documentos e pegamos o bondinho de volta para o Centro. Descemos no caminho e, perdidos, tentamos encontrar a direcao do hotel. Ali na encruzilhada, um outro mochileiro tambem tentava se localizar atraves de um mapa enorme da cidade.

Nos juntamos a ele e seguimos ate o Centro. Pelo caminho, viemos trocando experiencias de viagens. O nome dele era Daniel, era da Australia e ja estava mochilando por mais de dois anos!

Paramos para almocar e, entre cervejas, demos boas risadas com as aventuras de nosso novo amigo. A certa altura, o papo comecou a rolar sobre Sydney, nosso destino final e onde pretendemos morar por um tempo.

Sai de la animada com os prospectos de nossa nova vida e segui para o hotel, onde exaustos da viagem e mais tranquilos com a situacao do visto, conseguimos descansar.

Passamos o dia seguinte inteiro conhecendo a cidade. Comecamos no Mercado Cigano, uma feira ao ar livre que vende desde alimento ate artigos para casa. Dali, fomos ate a  St Aleander Nevski Memorial Church e tambem ate a Igreja Sofia, que inspirou o nome da cidade. 

 

Quando chegamos no hotel, o Al comecou a sentir umas dores estranhas no musculo do pe, a ponto de nao poder andar, entao decidimos usar os proximos dias para repousar e recarregar as baterias.

E assim o fizemos, enquanto o Al repousava, achei um otimo internet cafe no centro, no Boulevard Vitosha. Alias, ali parece ser a ‘Oscar Freire’ de Sofia, e entre varios cafes ao ar livre, passamos otimas tardes.

Quando a semana seguinte comecou, entrei numa rotina diaria de ligar todo dia de manha para o Consulado, para saber do nosso visto. Conforme prometido,ele ficou pronto na quinta-feira, uma semana certinho desde nossa chegada. Corremos para la, pegamos nossos passaportes e fomos ate a estacao de trem. Sofia e muito bacana, realmente uma cidade super agradavel, mas voce conhece a cidade em dois dias no maximo. Ja estavamos la ha uma semana e a urgencia de ir embora tomou conta de mim.

Na estacao de trem, fomos informados que nao havia mais lugares para Istambul, ate o dia seguinte. Vislumbrei a possibilidade de ficar um dia a mais ali na cidade, mas foi fora de cogitacao, nossa hora tinha dado, sairiamos de la de um jeito ou de outro.

Assim sendo, fomos ate a estacao de onibus e conseguims duas passagens para a noite, de Sofia a Istambul. E assim, nos despedimos da cidade e quando deu nosso horario, embarcamos, rumo a Turquia!

 

 

Bucarest – Wed – 6th August 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Avaliar um lugar pela sua estacao de trem, e como julgar um livro nao pela capa, mas pelo pior capitulo! Com excecao de algumas belas estacoes, como a Waterloo em Londres ou a Gare du Nord em Paris, geralmente as estacaoes acabam sendo um ‘hang out’ de tipos estranhos e bares duvidosos, e Bucareste nao poderia ter sido diferente.

Como tinhamos algumas horas para matar ali ate nosso trem para Sofia sair, decidimos ir ate o Centro para conhecer a cidade um pouco melhor. Saindo do metro, caimos no que nos pareceu ser uma das pracas centrais da cidade.

Dali, nos dirigimos ate A Curtea Vechia, ou antiga corte, como era conhecida. 

Entre ruinas, pavimentos rachados e casas caindo aos pedacos, fomos ate o Palacio do Parlamento. Bucareste infelizmente e um projeto arquitetonico que nao deu certo.

 

 

Conhecida antigamente como a Paris do Leste Europeu pela beleza e elegancia de suas alamedas e parques, a cidade foi toda reestruturada, durante a ditadura de Nicolae Ceausescu e seus planos megalomaniacos.

Tais planos incluiam a construcao de uma ‘Champs Elisee’ romena, alem de um palacio gigantesco para si proprio, acoplado ao Parlamento. Para tal, dezenas de suburbios foram desapropriados e destruidos, bem como grande parte dos monumentos e antigas construcoes da cidade.

O palacio foi finalizado e hoje e a segunda maior construcao publica do mundo (atras apenas do Pentagono).

Voltamos para a estacao logo em seguida. Vamos pegar outro trem noturno ate Sofia, entao decidimos nos certificar sobre se teriamos leito no trem. Entramos na fila de um dos guiches, que por sinal era enorme. Alguem escreveu na parede ‘O Comunismo esta vivo nesta estacao de trem’  achei perfeito!

Varios cachorros circulavam a nossa volta. Bucareste e a capital mundial da Rabis (raiva), mas pelo menos aqueles me pareceram tranquilos. Quando fui chamada, perguntei sobre nossa passagem. A funcionaria, de repente teve um acesso de nervos, comecou a berrar um monte de coisas em romeno, que pelo que entendi, eu deveria estar na fila errada. Tava ate engracado, ate que ela comecou a jogar umas coisas no chao, ainda fora de si, o que me fez pensar que quemsofria de raiva era ela e nao os cachorros da estacao!

Depois de irmos ao guiche certo, fomos ate a plataforma, aguardar pelo trem. Ele estava vindo de Moscow e demorou pra cacete para chegar.

Nos despedimos de Bucareste sem muita saudades.