Arquivo de janeiro de 2009

Hanoi – Vietnan

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Chegamos no Vietnan no final da tarde. Pela janela, o sol estava se pondo e ao longe, uma espessa neblina pairava pelos campos e fazendas que separam o centro de Hanoi e o aeroporto.

Pela janela observava os camponeses que traziam cestos de cascas de arroz para queima-los ali na estrada. Algumas fabricas apareciam de vez em quando. O ar era pesado, a neblina era tao espessa que parecia ter havido um grande incendio.

Tinhamos uma breve nocao de como chegar ate o hotel e, apos uma hora dentro do onibus, comecamos a ficar preocupados, pois ja haviamos passado por alguns centros que poderiam ter sido nossa parada.

Pedimos informacoes a uma senhora do nosso lado, mas ela nao falava ingles entao ficamos na mesma. Ate que um rapazinho, muito simpatico e bem vestido, apareceu ali do nada e se prontificou a nos ajudar. Muito bem articulado, veio durante o caminho conversando conosco, fazendo perguntas sobre nos, nossa viagem, nossos paises de origem.

Ele tinha um carisma natural e, assim que chegamos na parada final, se ofereceu a nos ajudar a pegar um taxi, pois segundo ele, alguns taxistas dali sao super mal intencionados e geralmente cobram o triplo do preco normal dos turistas.

Em poucos segundos, conversando em vietnamita, organizou com um motorista nosso trajeto. Entramos no taxi e ele, veio junto. Ficamos apreensivos, mas tava tudo acontecendo tao rapido, que apenas rezamos para que nao fosse roubada.

Bom, chegamos na area do Old Quarter, onde nosso hotel estava localizado. Mas ao inves de levar aonde haviamos solicitado, o taxi parou de frente a um outro hotell nada a ver. Os funcionarios logo vieram comprimentar nosso ‘amigo’ e o motorista em seguida veio nos cobrar uma quantia absurda pelo trajeto.

Roubada. Tava na cara. Meu, depois de todas nossas aventuras e desventuras, achei que estariamos mais escolados em farejar situacoes como esta, mas nao. Aqui a galera eh mais maliciosa, os espertinhos sao mais rapidos, no pensar e agir do que em outros paises. Na India por exemplo, a jogada era lancada e havia um momento em que pareciam esperar para ver nossa reacao e tinhamos tempo para aceitar ou nao. Aqui nao, com um sorriso no rosto e cheio de piadinhas, ele foi aos pouquinhos nos levando para onde ele queria.

O Al a esta altura tava puto. Bom, recusamos entrar no hotel e tambem a pagar o taxi. A discussao comecou no meio da rua, pessoas comecaram a se aglomerar a nossa volta. Concordamos em pagar parte do taxi e ir andando ate nosso hotel. Nosso amigo reclamou por nao termos pago o taxi todo e ai, perdi a paciencia tambem ‘voce tambem veio conosco….a parte que ta faltando e a sua’. E assim, pegamos nossas mochilas e fomos a procura de nosso hotel.

As ruas do Old Quarter sao confusas, comecam com um nome  e terminam com outro. A frente das casas e predios sao super estreitas. Dizem que, como em Amsterdan, o imposto pela propriedade aqui e pago de acordo com o espaco que ocupam na rua. Assim, paga-se menos se sua casa tiver uma frente menor, nao importando quantos andares ou quao profunda ela eh.

Nao conseguimos achar o hotel que queriamos, mas achamos um bem bacana e logo deixamos nossas mochilas. Depois da discussao e do perrengue que passamos, vimos que mereciamos uma boa e gelada cerveja. E assim, seguimos em direcao ao Hoan Kiem Lake, um lago localizado no centro e nao muito longe de onde estavamos.

Meu, sair nas ruas de Hanoi e uma aventura a parte. As vias estreitas carregam uma quantidade alucinante de motos e rickshaws. As calcadas tambem sao lotadas. De pessoas, de mesinhas dos pequenos bares e barraquinhas de ruas. Muvuca, por todos os lados. Ha uma ordem nesta desordem, que comecei a aprender ao atravessar a rua: o negocio e manter o ritmo normal, nao correr nem parar no meio da avenida. Assim, voce comeca a fazer parte deste mosaico e institivamente, os motoristas desviam de voce. A tatica quase sempre funciona….

A muvuca e sonora e visual e voce se ve assim, bombardeado de informacoes. Mas mesmo assim, e fascinante estar ali.

Paramos num restaurante em frente ao lago e, apesar do lugar ser um pega-turista, a vista era barstante prazeirosa. O lago a nossa frente traz uma historia interessante. Dizem que durante o seculo XV, o imperador Ly Thai To recebeu uma espada dos ceus. Com ela, conseguiu reconquistar o dominio sob o pais e espantar os chineses que se apoderaram da regiao.Ao passear pelas margens do lago, uma tartaruga dourada apareceu, surrupiou a espada e sumiu por entre as aguas e por isto o lago leva o nome de Hoan Kiem Lak, que quer dizer o lago da espada recuperada… (mas deveria ser perdida, nao?)

Voltamos para o hotel pelo Hang da Market, um mercado de rua noturno cheio de barraquinhas vendendo roupas, DVDs piratas e artigos para casa.

Descansamos bem e logo que o dia amanheceu, saimos para explorar a cidade. Ali no Old Quarter mesmo ha varias atracoes a serem visitadas, nao muito distantes.  A luz do dia, as ruas parecem diferentes.

Ainda ha  o mesmo rebulico constante de pessoas e motos. Mas agora da para ver melhor os predios, as lojas e entender melhor a cidade. Na nossa area, o comercio parece ser dividido por especialidade, tipo as vezes passamos por varias lojas vendendo panelas. OUtras, sapatos. Ali proximo do nosso hotel, as lojas vendem fechaduras, o que achei otimo, pois se me perder, e so perguntar onde posso comprar uma tranca…

Os predios, em pequenos detalhes, as vezes lembram um pouco os suburbios de Paris, com suas sacadinhas de ferro com detalhes trabalhados. Mas a frente estreita e uma caracteristica propria daqui mesmo. As vezes da para ver apos os fundos da loja, um pedacinho da casa do seu proprietario, que deve habitar ali com a familia inteira, incluindo os pais, esposas, filhos.


As vezes tambem encontramos com camponeses com aqueles chapeuzinhos em formato de triangulo, carregando frutas e vegetais em trouxinhas, penduradas em cada lado de um pedaco de madeira.E claro, muitos turistas.

O Old Quarter e a area favorita dos ocidentais e, depois de passar por lojas bem simples, entramos numa rua cheia de agencias de viagens. Pesquisamos em tres delas um tour para ir ate Halong Bay e ficamos de cara com a discrepancia de precos entre elas. Fechamos com uma agencia que nos ofereceu um tour bem bacana, por 95 dolares, passaremos dois dias em um barco-hotel na baia e a ultima noite num hotel. Todas as refeicoes estao inclusas, bem como todos os passeios. Otimo.

Continuamos nossa circulada pela cidade e chegamos ate o lago. Fomos visitar o Ngoc Temple que fica numa ilha e dali, continuamos pelo parque.

A passarela em volta e como um oasis. Passeando por entre as arvores, dificil acreditar que a muvuca nao esta muito longe dali. A atmosfera e tranquila e prazeirosa.

Caminhamos em direcao ao Museu de Etmologia do Vietnam. Paramos para comer numa das barraquinhas e cara, morri de rir. As mesinhas na rua tinham o mesmo tamanho daquelas mesinhas de criancas, de plastico, aquelas que usavamos para brincar de casinha. O Al tem mais de um metro e oitenta. Ver ele ali espremidinho, tentando se equilibrar, cara foi hilario!!!

As pessoas aqui sao pequenininhas e mais marginhas que os ocidentais. Tambem, embora o turismo esteja crescendo bastante no pais, a lingua as vezes e uma barreira e e preciso ficar atento, pois mais de uma vez perguntei o preco com antecedencia na hora de pedir um lanche, para descobrir depois que ‘havia ouvido errado’…Da proxima vez vou pedir para eles escreverem. E assinarem embaixo! ahhahahah

O museu fica num predio lindo, estilo neo-colonial. A exposicao ostenta alguns artigos interessantes, mas fiquei um pouquinho desapontada, pois nao ha quaisquer referencias sobre a guerra. Segundo o Al, que ja esteve no pais antes, uma das maiores mostras esta em Saigon, ou Ho Chi Minh City.

Mas so de estar ali, e impossivel nao pensar no assunto. Principalmente porque nao faz tanto tempo assim que o pais esteve em guerra e, aqueles senhores de sessenta e poucos anos que vemos na rua provavelmente participaram do conflito. Alias, quase todo mundo que vivenciou o periodo participou de uma forma ou de outra.

Ali comecou uma admiracao por este pais que ao longo dos anos passou por guerras apos guerras, escapou de um colonialismo brutal e enfrentou o pais mais poderoso do planeta.

O Vietnan veio ao longo dos seculos enfrentando gigantes sejam eles chineses, franceses, ou americanos. Contra os primeiros, foram quase dez seculos de resistencia para enfim obterem sua independencia politica, que durou ate 1883, quando a Franca anexou seu territorio como colonia.

Durante este periodo, a resistencia mais eficiente contra o dominio europeu veio de uma organizacao comunista, fundada por Ho Chi Minh, a Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã, em 1925. A liga tambem foi a unica a resistir eficientemente a ocupacao japonesa no pais, durante a segunda guerra mundial.

Apos a retirada do exercito japones, Ho Chi Minh e seu grupo ja controlavam grande parte do pais e assim, declararam sua independencia.

Em 1946, a tentativa francesa de restabelecer o colonialismo no Sudeste Asiático provocou a Guerra da Indochina, em que o imperialismo francês enfrentou grupos de guerrilhas no Vietnã e no Laos, culminando com a derrota francesa na Batalha de Dien Bien-phu em 1954.

A Conferência de Genebra, de 1954, convocada para negociar a paz, reconheceu a independência do Vietnam, mas temporariamente diviu o pais em dois, o Vietnam do Norte, socialista  e liderado por Ho Chinh Min e o Vietnan do Sul, pro-capitalista e liderado por Ngo Dinh Diem.

Este ultimo era um lider catolico e anti-comunista que ficou conhecido pela brutalidade de seu regime e acabou sendo assassinado por sua propria tropa, em 1963. Em 1964, o governo de Hanoi, ao Norte ordenou que suas tropas infiltrassem-se ao sul do pais e o regime de Saigon chegou proximo ao colapso.

Em 1965, os EUA enviou suas primeiras tropas de combate, bem como o fizeram os paises da Coreia do Sul, Australia, Tailandia e Nova Zelandia.

Sem poder contar com o poderoso armamento belico americano, mas fazendo uso do  bom conhecimento de seu espaco geografico, os Vietcongs utilizaram-se de tecnicas de guerrilhas, emboscando tropas inimigas com ataques surpresas.

Em 1968, durante o Ano Novo Lunar celebrado no Vietnam, as forcas de Ho Chinh Min e do Vietcong quebraram a tregua esperada durante este periodo do ano e desfecharam um ataque de surpresa , conhecido como ‘Ofensiva do Tet’, que compreendeu o ataque de mais  de cem cidades no Vietnã do Sul, incluindo à embaixada dos Estados Unidos.

A ofensiva foi mais eficaz no plano moral do que no real, uma vez que ate entao, as informacoes difundidas pela midia era de que o exercito americano sairia do Vietnam vitorioso. O ato causou repercussao e confusao e as demandas para o termino do conflito tornaram-se mais intensas. Em 1973, os americanos deixaram o pais e em 1975, o exercito comunista tomou conta de Saigon.

Com o final da Guerra Fria e com o colapso da Uniao Sovietica em 1991, o pais se reaproximou do Ocidente, recebendo investimentos estrangeiro e alimentando-se da industria do turismo e e um dos paises que mais cresceu no Sudeste da Asia.

Nao ha como esquecer um passado tao cheio de acontecimentos. A figura de Ho Chin Minh esta espalhada por toda a cidade atraves de posteres. Como em Moscow, aqui tambem ha um mausoleu onde o corpo embalsamado do lider encontra-se exposto em uma redoma de vidro e pode ser visitado em algumas epocas do ano.

Como amanha cedinho partiremos para Halong Bay, nao teremos a oportunidade de ir visita-lo…Entao, depois de experimentar uma das famosas baguetes de rua, um dos legados franceses na cidade brindamos com uma cervejinha, num restaurante no topo de um ds predios que circundam o lago.

Infelizmente estamos com problemas em nosso memory card e nao pudemos postar nossas fotos e filmes para este post. Utilizamos as fotos dos sites:

http://www.tripadvisor.com
http://www.hotels-in-vietnam.com
http://www.travelblog.org
http://www.traveladventures.org
http://www.britannica.com

Laos – Vientiane

sábado, 24 de janeiro de 2009

Somos um casal internacional. Eu sou brasileira, ele e australiano e nos dois passamos uma boa parte de nossas vidas em Londres. Consequentemente, temos amigos espalhados por quase todo o mundo.

Durante nossa viagem, tentamos encontrar com varias pessoas que conhecemos, mas, como fomos fazendo nosso roteiro assim meio as pressas, algumas vezes rolou, outras nao, afinal as pessoas tem seus proprios planos tambem.

E em Vientiane aconteceu a mesma coisa. David e um amigo do Al da epoca da faculdade. Eles, assim que se formaram em Geologia, fizeram uma viagem fantastica de Melbourne a Perth, onde estao as maiores empresas de mineracao da Australia. Atravessaram o deserto no centro do pais e batalharam juntos pelo primeiro emprego depois de formados.

Depois de muitos anos, o Al se mudou para a Inglaterra, comecou uma carreira nova em IT e os dois meio que perderam contato. David continuou trabalhando como geologo. Morou na Tailandia, Bali e Laos, onde casou com uma residente local e teve dois filhinhos lindos.

Conversamos com ele algumas vezes durante a viagem e pegamos seus contatos. Infelizmente, nas proximidades de nossa vinda a Laos, ele mudou-se para Jakarta, em funcao do trabalho. Mas nos convidou para ficar na sua casa.

Chegamos em Vientiane e ligamos para Tutka, a cunhada do David. Ela veio nos buscar no aeroporto, com uma amiga super simpatica. Nossa, nos ultimos meses foi um tal de chegar ir atras de taxi, ir atras de hotel, carregando a mochilona, que esta gentileza de vir nos buscar teve um valor todo especial.

Elas chegaram em poucos minutos e no caminho viemos o tempo todo conversando. Parecia que nos conheciamos ha tempos! Vieram nos mostrando os principais pontos turisticos da cidade, e a certa altura perguntaram se queriamos ir para a casa ou ir para a balada com elas.

Embora estivessemos um pouco cansados, nao resistimos. Pegar balada com a galera local e outra coisa. E assim fomos ate um dos bares as margens do Rio Mekong.

O bar era lindo, com decoracao bem cuidada, fontes artificiais, e uma area de vidro separada, onde estava o grupo de amigos que elas haviam deixado para ir nos buscar no aeroporto.  Aparentemente, Tutka& friends estavam no ultimo ano da faculdade de Business e, como todos em vida universitaria, tinham uma vida social super agitada.

Foi tao louco, olhando ali para eles, tive um flashback. Nos meus tempos de faculdade, era exatamente isto


que estava fazendo, era este o jeito que pensava. E, como sou mestica, nossa aparencia tambem era fisica. Foi muito doido, me identifiquei com elas pra caramba. Quando tinha a idade delas tambem era assim, se me perguntassem meu nome, nao saberia responder. Mas sabia nome, endereco e codigo postal de todos os bares de Sao Paulo!

A noite estava otima. A balada em Vientiane e agitada, as meninas se produzem no ultimo e vinho e coqueteis parecem ser mais populares que a Lao Beer.

Tambem e costume mudar de bar varias vezes durante a noite. E assim, nos, nossas anfitrias e cia, seguimos para o bar seguinte.

Este era mais um club do que um bar. O som altissimo vinha acompanhado de um show de luzes super

intrigante: muitos, muitos, muitos feixes de luzes, como aquelas canetinhas que emitem um fio de luz vermelho, movimentando-se com rapidez pelo ambiente. O som mudava a cada dez segundos. Definitivamente, para o DJ quantidade era sinonimo de qualidade. Ou ele estava tentando tocar a musica preferida de cada um do club que por sinal estava lotadesimo.

Mesmo com o barulho, conseguimos conversar bastante e, quando comecei a falar do Brasil, percebi o quanto longe de casa estava. Foi a primeira vez que me dei conta do quanto ja rodamos, quao geograficamente estamos afastados, aqui em Laos, um pais que quase nunca aparece nos noticiarios.

E ouvi tambem muitas historias, a menina que gostava do menino, que estava ali atras da agente, mas que ele nao prestava atencao a ela. Que ela jah havia se declarado, mas ele gostava de outra. Dos sonhos de cada um apos terminar a faculdade. Da vontade de conhecer o mundo. Dos pais, da familia, das viagens com os amigos. E cheguei a conclusao que, no mundo, por mais diferentes que sejam nossos paises e  costumes, a essencia do ser humano e igual.  Nos apaixonamos, sonhamos, batalhamos de maneira parecida. Cuidamos de nossa familia, buscamos por bons momentos, curtimos nossos amigos de maneira exatamente igual.

Nesta mesma noite, mudamos de bar mais outras duas vezes. E, no final, confesso, estava acabada. Ai o flashback acabou e vi que nao estou mais na epoca da faculdade, e que carrego comigo mais de dez anos de balada que eles e implorei a Tutka para irmos embora.

Viemos de carro pelo caminho, com uma das meninas pendurada numa das janelas, tomando ar e dando boas risadas de nossa noite.

Chegamos na casa de David, que fica na mesma area da casa dos pais de Tutka.  A casa tinha o estilo arquitetonico das construcoes em Laos: a area maior fica no piso superior, que eh suspenso por colunas. O telhadinho oriental, a varanda ornamentada com detalhes em madeira. Por dentro, era linda. E enorme. Lembrando dos lugares que ficamos durante a viagem, parecia que estava delirando.

Dormimos super bem e pela manha, Tutka veio nos chamar para tomar cafe da manha na casa dela. Estavamos numa ressaca animal, monstruosa. Seguimos para la. Os sogros do David estavam sentados a mesa, calmamente lendo os jornais.

Comecamos uma conversa super prazeirosa sobre o pais, a economia e sobre nossas vidas.

Tutka comecou a servir o cafe-da-manha. Nao sei se ainda estava alterada da noite anterior, mas cai de amores por eles. Os pratos comecaram a ser servidos, primeiro, o arroz grudadinho, que aqui chama-se ‘sticky rice’. Depois, uns peixinhos a milanesa. Varios vegetais diferentes e molhos ainda mais diferentes. E o prato principal: numa travessa, um monte de bichinhos cozidos a vapor.

Olhando de longe, pareciam gafanhotinhos descascados. Nao dava para distinguir bem o que eram, mas dava para ver que eram insetos. Dava para ver os olhos, as perninhas, as antenas. O pai da Tutka entao explicou que eram larvas de vespas. Aqui em Laos tem uma especie de vespas que sao enormes e super perigosas. A picada e tao forte que chega a matar.

Tais vespas colocam ovos sob a terra e quando estes tornam-se larvas, sao retirados e vendidos para o consumo.

Nao sei se ainda estava meio alta da noite anterior, ou se a simpatia deles me deixou meio embriagada, ou se estava curiosa, ou se esta viagem me abriu tanto a cabeca que nao me assusto com mais nada, ou se tudo isto junto. Mas provei os insetinhos e, posso ser sincera? Adorei. As larvinhas de vespas tem sabor de camarao e temperadinhas com os molhos certos, sao uma delicia.

Quem me conhece sabe que sou meio fresca para comer. Mas isto me mostrou como deixamos de fazer coisas por bobagens que colocamos na cabeca.

Depois do cafe, eles nos levaram ate o centro. O calor la fora, juro nao tinha comparacao, ganhava de Piracicaba ou Ribeirao Preto. O sol estava ardendo. E nos ali ressacados, meu, tava foda. Paramos num cafe e tomamos tres ‘watermellow shakes’ cada. Aqui eles fazem este suco que nada mais e do que melancia batida com gelo, que e uma delicia no calor.

Quando tomamos coragem, seguimos ate o Talat Sao, um mercado gigantesco. Dali, seguimos para a Promennade, uma passarela as margens do Rio Mekhong cheia de restaurantes e barraquinhas oferecendo massagem.

Dali, no lado oposto a margem esta a Tailandia. Parece tao pertinho! Em funcao da localizacao, a cidade de Vientiane teve um passado historico super turbulento. Laos na verdade, antes dos franceses chegarem, era um agregado de povoados distintos, que viviam em conflitos e invasoes constantes.  O mais proximo que o pais veio a conhecer de unidade territorial foi no seculo XIV, quando a cidade de Wieng Chang (Vientiane) foi conquistada juntamente como parte do norte da Tailandia, Luang Prabang bem como outros povoados regionais, por Fa Ngum.


O territorio passou a ser conhecido como Lan Xang, que quer dizer a Terra de Milhares de Elefantes. E assim permaneceu por mais alguns reinados, ate que durante o seculo XVIII, Lang Xang sucumbiu aos avancos siameses no pais.

Os franceses, que ja haviam conquistado o Vietnam, negociaram um tratado com o Siao dividindo as terras de acordo com o contorno do Rio Mekong e assim, surgiu Laos, como conhecemos hoje. O dominio frances na regiao pouco fez para seu desenvolvimento. Apenas permitiu a producao de Opium local, que rapidamente prosperou em larga escala.

Por sua diversidade etnica, levou um certo tempo ate seus habitantes locais formarem um pensamento nacionalista comum e enxergarem que os franceses ali estavam na verdade sobrando.  E este somente aconteceu apos a Segunda Guerra Mundial, quando o exercito japones que dominou a area durante a guerra retirou-se da regiao. O movimento apenas existiu para impedir que os franceses retomassem seu dominio.

A nova nacao independente tambem sofreu periodos de extrema instabilidade politica, que levou a formacao de duas faccoes principais: os Pathet Lao, apoiados pelos Vietnamitas do Norte, China e a extinta Uniao Sovietica e a elite de direita, apoiada pelos Estados Unidos.

Este ultimo, com o avanco do comunismo no restante do Sudeste da Asia, via no pais a chance de conter o movimento. E, como sempre, resolveu acabar com o problema da melhor forma possivel (para eles) e assim, de 65 a 73, Laos se tornou o pais mais bombardeado do planeta. O Leste e o Nordeste do pais foram totalmente devastados pelos EUA.

A ofensiva, como sempre, saiu pela culatra e o partido de direita somente perdeu o apoio da populacao. E estranho ver a mesma historia se repetindo, mudando-se apenas os personagens. Corrigo, um dos personagens, pois o outro aparece sempre, e sempre e sempre  na historia dos conflitos do mundo.

As tropas americanas deixaram o pais em 1973 e em dois anos, os comunistas tomaram o poder e a Republica Democratica do Povo de Lao foi criado.

Ao longo dos anos, o governo percebeu o declinio das nacoes socialistas e o regime esta mais aberto aos mercados internacionais e o pais espera prosperar com a construcao de estradas que colocarao em contato os paises com os quais faz borda.

Mas tais mudancas levarao tempo e atualmente e considerado um dos menos desenvolvidos paises do Sudeste Asiatico.

Vientiane como capital e  bastante distinta. Com apenas 200 mil habitantes, em plena luz do dia a cidade e bastante tranquila. Nao ha quase transito e por voltas nos vemos quase que sozinhos, caminhando entre as belas ruas arborizadas.

Templos aparecem a cada minuto e monges circulam livremente pelo ambiente. Entramos na area de Th Setthathirat, uma rua principal cheia de barzinhos e restaurantes que parece ser o reduto dos expatriados. Estes sim, aparecem com uma certa frequencia aqui e ali. Fico pensando no David, trabalhando por aqui por tantos anos, com familia e sem dominar o idioma. Acho que aqui e que nem Londres, tem bastante estrangeiros morando na cidade e assim, eles formam os seus grupos e e facil viver bem, falando apenas o ingles (ou frances, que ainda e ensinado nas escolas).

Voltamos para a area do Rio e ali assistimos ao por-do-sol, lindo.

No dia seguinte, nos despedimos de Tutka, que foi para a Tailandia com a mae. Ela nos deixou a chave do jipe do David e assim, aproveitamos nossas ultimas horas na cidade para fazer um pouco mais de turismo.

Como Luang Prabang, Vientiane tambem tem uma forte presenca francesa em seus monumentos e vias. Aqui tambem tem um Arco do Triunfo, que e chamado de Patuxai e, como a Champs Elisee, fica bem ao final da via mais importante da cidade, a Th Lan Xang.

Nao muito distante dali, fica a Pha That Luang, o monumento mais importante da cidade, pois alem de celebrar o Budismo como religiao oficial do pais, tambem e um simbolo de sua independencia politica. Diz a lenda que ha um pedaco do osso da caixa toraxica de Buda enterrado nesta area, mas o fato ainda nao foi confirmado.

O lugar e simplesmente fantastico e e aqui que ocorrem as principais celebracoes da cidade.

Terminamos nosso tour com um almoco delicioso as margens do Rio. E assim nos despedimos de Laos. No horario marcado, pegamos nossas malas e seguimos ate o aeroporto. Hoje a noite, atravessaremos mais uma fronteira: Vietnam! Vejo voces la.

Luang Prabang – Laos

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009




O aviao comecou a descer. Abaixo de nos, um mar interminavel de montanhas e florestas. O verde da mata, o relevo da geografia, o ceu claro e limpo, o Rio Mekong recortando a paisagem com suas aguas avermelhadas, foi emocionante chegar em Laos.

O caminho do aeroporto ate o centro tambem veio recheado de boas surpresas. Laos contraria aquela ideia que temos de paises asiaticos, superpovoados e com transito caotico. O Al ja havia estado ali muitos anos atras e a primeira referencia que fazia era de que o pais parecia estar eternamente cochilando.

E assim, viemos pela estrada de terra avermelhada, passando por casebres de madeira, com as montanhas maravilhosas ao fundo. Cortamos rios, passamos por pontes de concreto antigas, uma sensacao de tranquilidade geral apenas sendo interrompida por algumas motinhos, que devem ser o meio principal de transporte por estas bandas, ja que quase nao vi carros.

Outra sensacao que tive foi a de isolamento. Laos parece ter sido trancado numa aboboda que o separa do restante do mundo. O regime comunista em muito atrapalhou seu desenvolvimento. Mas tambem, ali foi o pais mais bombardeados do planeta. Visto como um dos pontos-chaves para a contencao do avanco comunista no Sudeste da Asia, Laos foi praticamente estracalhado por um arsenal poderoso americano. Cerca de 270 milhoes de minibombas foram lancadas sob o pais durante as decadas de 60 e 70 e quase um terco delas ainda nao explodiram. Alem de ser uma das grandes causas de acidentes no pais, elas tambem tornaram uma consideravel parte de seu territorio inaproveitavel.


Chegamos em Luang Prabang no finalzinho da tarde. Nosso hotel ficava a frente do Rio Mekhong, numa rua cheia de restaurantes, com terracos as margens do rio, que parece ser o coracao das cidades deste pais. Caminhando pelas ruas de paralelepipedos, foi facil entender porque dizem que esta e uma das cidades mais bonitas de Laos. As ruas de pedra ostentam casaroes antigos, ainda do periodo da Indochina, e estes vivem lado a lado com templos budistas, casebres e mercadinhos orientais.

E uma estranha e bela mistura, os detalhes europeus ainda presentes, seja nos postes de iluminacao pretos, que lembram aqueles de Paris, monges com seus robes laranja passeando tranquilamente, adolescentes guiando a moto com uma mao e segurando um guarda-chuva na outra, um cenario tao diferente, como se cozinhar coq-au-vin, com molho de shoyu.

Caminhamos um bom tempo pelo centro, a cidade e bem pequenininha e e facil cruza-la de canto a canto. Experimentamos um excelente ‘Lap’, um prato tipico daqui que consiste em uma carne moida, temperada com ervas da regiao e bastante pimenta, que geralmente e servida com salada. Maravilhoso.

A noite por aqui e bem tranquila. Acho que o turismo no pais ainda esta dando os seus primeiros passos e, embora encontremos alguns mochleiros aqui e ali, a cidade dorme cedo, e acorda cedo tambem.

Fazia muito tempo desde a ultima vez em que acordei com o galo cantando. Descemos as escadas do hotel e a senhora que trabalhava ali ainda estava ajeitando a sala, que de noite vira um quarto onde um senhor e algumas criancas dormem.

Atravessamos a rua e fomos ate o restaurante logo de frente. A paisagem estava linda, o rio avermelhado com suas aguas rapidas volta e meia ostenta um daqueles barcos finos e compridos, aqui conhecidos como ‘long boats’. Alguns vinham carregados de locais, vindo de algum vilarejo nas proximidades do rio, para resolverem seus afazeres na cidade, como ir a um supermercado, ir no medico, etc. Outros, com turistas explorando as atracoes ao longo do Mekhong.

Estudamos nossas opcoes para o dia, e decidimos ir ate a Kuangsi Waterfall, ha cerca de 36 km ao sul. Esperamos dar o horario de saida de nosso tour e seguimos para la, num dos cafes. O Al tem razao, a cidade parece estar sempre sonolenta, olhando dentro dos carros parados, motoristas cochilam durante o dia, enquanto nao aparecem passageiros. O mesmo acontece com as casas que porcausa do calor forte, deixam as portas abertas e la de fora da para ver os pezinhos das pessoas deitadas no chao.

E ai deu para entender, existem lugares no mundo onde o ritmo e diferente. Nos estamos acostumados a acordar, correr, mal tomar cafe da manha, sentar no carro, ir trabalhar, correr o dia inteiro e voltar para casa e continuar correndo. Ali nao, ali o tempo passa devagar, a vida segue tranquila, voce acorda quando tem que acordar e corre, se tiver que correr. E ali conclui que nao sao eles que sao dorminhocos. Somos nos que somos estressados.

Nosso motorista veio nos chamar e depois de algumas horas de estrada, chegamos ate a cachoeira. Ela fica num parque nacional que tambem e um refugio para ursos. As quedas sao divididas por planos e, olhando de frente, assemelha-se a uma torre de tacas de champagne. Na luz do dia, o visual era simplesmente maravilhoso.

Fizemos uma trilha ate o topo que foi extremamente cansativa, mas cair na agua debaixo daquele calor, foi um sonho. Retornamos a Luang Prabang no final da tarde e fomos ver os mercados de rua. A cidade tem dois mercados bem famosos, o principal deles e o Phousy Market, ao Sul do centro da cidade. Foi bacana, mas confesso, nao da para compara-los com os megamercados de Chiang Mai.

No dia seguinte, fomos ate o porto e pegamos um longboat pelo rio, ate a Pak Ou, ou a ‘Caverna de Budha’, como tambem e conhecida, ha cerca de uma hora de Luang Prabang. O lugar na verdade e formado por duas cavernas, que vem sido utilizadas ha mais de quinhentos anos por moradores locais.

Eles trazem estatuetas de Buda e ali as deixam para adoracao. Hoje ha cerca de centenas de imagens espalhadas por ali.


Nos arredores, varias criancinhas vendiam uns passarinhos presos em gaiolas minusculas. Nao entendi se estavam vendendo os passarinhos ou se o dinheiro seria para solta-los, ja que as jaulinhas eram tao pequenas que eles mal podiam se mover.

Na volta, paramos em Ban Xang Hai, um vilarejo as margens do rio que tambem e conhecido como ‘Whisky Village’, porque produzem ‘Lao Lao’, uma bebida de alto teor alcoolico. Acompanhamos a preparacao e provamos um pouquinho, e sim, lembra um pouco whisky, embora nao seja grande conhecedora do assunto.

Voltamos a Luang Prabang e passamos nossa ultima noite na cidade num barzinho super bacana.

Pela manha, arrumamos nossas coisas. Nosso voo ate Vietiane sai apenas no final da tarde, entao usamos o restante do tempo para conhecer alguns templos. Ha alguns templos que ficam na colina de Phu Si, e a subida ate ali, embora cansativa realmente vale a pena. No caminho, fomos encontrando estatuetas douradas de Buda, em diversas posicoes de meditacao diferente. La de cima, a vista era simplesmente fenomenal.


O caminho abaixo tambem foi de encher os olhos, ja que fomos descendo uma escadaria de pedras maravilhosa. Ficamos tao encantados com o lugar que quase esquecemos da hora. Corremos de volta ao hotel, e saimos pelas ruas como doidos atras de um taxi para o aeroporto. Quando finalmente conseguimos, nos despedimos da tiazinha do hotel e pegamos estrada.

Para nossa sorte, o taxi quebrou no meio do caminho. Um tuk-tuk que por ali passava topou nos levar ate o restante do percurso e assim, aos trancos e barrancos chegamos em cima da hora para o nosso voo. Ainda deu tempo de olhar para tras e rever a sensacao que tive quando cheguei ali e me encantar novamente com este lugar tao especial.