Quillon – Fort Kochi – 23 -25 August 2008

Nosso segundo trem foi um pouco mais atribulado que o primeiro e, tenho a impressao que quanto mais ao Norte do pais vamos nos aproximando, gradualmente a coisa ira piorar. Pegamos dois bons lugares, mas quando estavamos prestes a chegar em Cochi, o funcionario veio nos informar que estavamos na classe errada, e deveriamos nos dirigir a ‘classe basica’.

Bom, classe basica, acho que era um eufemismo para o que encontrei a minha frente: em bancos de madeira, vagoes superlotados, imundos, entendi que os trens sao um reflexo da sociedade indiana, e seu sistema de ‘castas’, um dos pilares da religiao hindu e ainda e amplamente utilizado em toda a India.

Segundo ele, como no trem, a sociedade e dividida por categorias, que determinam qual sera a sua profissao e com quem voce ira casar, uma vez que nao e permitido a  transicao de uma categoria a outra. A ‘primeira classe’ e reservada para os sacerdotes hindus (claro, foram eles que criaram este sistema…), professores e filosofos e abaixo de todas as castas estao os ‘dhalits’, ou os ‘intocaveis’, como sao conhecidos por aqui, que sao destinados aos piores trabalhos, como limpadores de rua e de latrinas.

Nao tive coragem de encarar a classe basica, mesmo porque, nao havia espaco fisico para mim e para o Al ficar de pe, com nossas mochilas, naquele confinamento de pessoas. Como faltava bem pouco para chegarmos, demos uma de turistas ‘desavisados’ e voltamos para nossos lugares.

Ate agora, tudo o que escutei sobre a India provou ser verdade, mas a maxima que mais venho encontrando e que ‘voce nunca sabe o que encontrara pela frente’. Saindo dos calmos remansos de Kerala para cair naquela bagunca do centro de Quilon foi um choque e tanto. Por isto, quando chegamos a Cochi e pegamos a balsa para Fort Cochin, deixei a mente aberta para o que der e vier.

E o que veio, foi uma agradavel surpresa. Conhecida como a Rainha do Mar Arábico, Cochi foi um importante centro comercial de especiarias entre romanos, judeus,  árabes, e chineses desde os tempos mais remotos. Uma das primeiras colonias de Portugal na India, a cidade foi mais tarde ocupada por holandeses, e mais adiante, por britanicos.

Fort Cochi, na peninsula sul da cidade e um bau de herancas de culturais, presentes lado a lado, pelos seus quatro cantos.

A arquitetura das casinhas baixas, com varandas antigas, por entre as ruas de paralelepipedo sao uma mistura de Parati com algumas cidades do interior do Brasil, ja que a cidade ostenta varias pracinhas arborizadas, com bancos de concreto e gramado. As ruas do centro sao permeadas com bons restaurantes e lojinhas com mesinhas na calcada e uma gostosa sensacao de calmaria pelo ar. Sem querer, enquanto buscavamos uma pousada, caimos na casa onde Vasco da Gama passou os ultimos anos de sua vida, mas que hoje funciona como hotel. 

Descansamos as primeiras horas e quando a noite chegou, saimos para jantar. Alem dos otimos restaurantes no centro, na area do porto ha um excelente mercado de peixes, onde os pescadores comercializam suas pescas, que podem ser levadas para serem preparadas num dos restaurantes locais.

Compramos umas lagostas, por 2 libras e, ali, nas ruas do centro, sentamos numa das barraquinhas ao ar livre.

Um casal de coreanos estava ao nosso lado, com uma filmadora gigante. Eles estavam preparando um documentario sobre a regiao de Kerala. Apos trocarmos algumas palavras e o al fazer algumas piadas sobre  um filme coreano que assistimos, eles decidiram usar o Al e seus comentarios infames no documentario.

Dali, paramos para uma cervejinha, no unico bar que avistamos na cidade inteira. A cerveja aqui, I’m sorry to say, mas eh uma merda. Jah nao faz muito parte do habito do indiano comum e, depois de experimentar uma das producoes locais, nao os condeno. A cerveja contem preservativos fortes que alem de alterarem o sabor, dao uma terrivel dor de cabeca.

Tambem no estado de Kerala foi banido fumar em lugares publicos. Voce pode faze-lo em lugares fechados, mas nao na rua, um conceito completamente inverso ao ‘smoking ban’ da Europa.

No dia seguinte, fomos fazer turisticagem. Um taxista nos abordou e nos ofereceu de nos levar ate os principais pontos turisticos, por meras cinquenta rupias, uma proposta muito boa para ser verdade. Mas ele tinha um sorriso tao grande e sincero, que aceitamos.

Alias, isto esta acontecendo com agente bastante por aqui, nos estamos nos encantando com a simpatia das pessoas locais, e acabamos nos deixando levar, mesmo se as ofertas possuem um porem. Neste caso, o porem era que alem dos pontos turisticos ele nos levaria a algumas lojas, onde provavelmente receberia alguma comissao por isto.

Mas para ser sincera, nao me importei. Olhar nao custa nada e ja estamos acostumados a nos livrar dos vendedores, pois depois de Istambul, aqui na India isto eh fichinha!

 

 

 

 

 

 

Nossa primeira parada foi numa fabrica de gengibre, onde pudemos acompanhar o tratamento do produto bruto ate a sua finalizacao, quando e embalado e pronto a ser comercializado. Dali, seguimos para a Sinagoga de Pardesi, no distrito judeu, que e um amplo conjunto de vielas, repletos de lojinhas, algumas ainda com fachadas com nomes de proveniencia hebraica.

A Sinagoga em si foi construida em 1568, sendo destruida pelos portugueses em 1662, e reconstruida pelos holandeses, muitos anos depois.

Dali, seguimos para o Palacio Holandes, o Mattancherry Palace, que foi construido pelos portugueses em 1555,e presenteado ao Raja de Cochin. Ali encontramos uma interessante cronologia historica sobre a regiao alem de murais antiquissimos, com pinturas que retratam cenas extraidas do Mahabharata, o epico anciente indiano, que foi uma das bases para o hinduismo . Alguma coisa me diz que tais escrituras parecem ser muito mais interessantes do que outros livros religiosos, pois retratam figuras mitologicas em aventuras epicas onde encontram seres magicos, lutam com dragoes e se engajam em batalhas homericas.

De la, fomos ate o Indo-European Museu, mas confesso que o conteudo historico do palacio foi muito mais interessante. Satisfeitos com o nosso tour, nos depedimos de nosso motorista e passamos a tarde caminhando pela cidade.

Chegamos a Igreja de Sao Francisco, construida por jesuitas em 1503 e uma das mais antigas construcoes europeias na India. Ali tambem esta enterrado o corpo de Vasco da Gama. A influencia jesuita na regiao explica o alto numero de catolicos,  convivendo lado ao lado com hindus, muculmanos e judeus.

Voltamos a regiao do porto e, na luz do final da tarde, pudemos vislumbrar (e nos maravilhar) com as famosas redes pesqueiras de Cochi, uma heranca de sua interacao com chineses e tambem um dos cartoes postais da cidade.

As redes sao impressionantes, e de longe, assemelham-se a grandes aranhas. O mecanismo para mergulha-las e ica-las exige os esforcos de pelo menos quatro homens que, com a modernizacao de tecnicas de pescagem, compromentem sua utilizacao.

 

 

 

 

Passamos a noite estudando nossa proxima rota. Nao muito distante de onde estamos, existem alguns parques nacionais, onde e possivel fazer alguns tours, a procura de elefantes, tigres e outros animais selvagens. Decidimos ir conhecer o Wayanad Wildlife Sanctuary, nas proximidades de Calicut.

E para la nos dirigimos, logo no comeco do dia.

 

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