Margao – Anjuna – 27 – 30 th August 2008

Ao ouvir falar sobre a India, o primeiro lugar que me vinha na cabeca era Goa. Alguns amigos haviam estado no lugar e tudo o que me falavam se resumia a uma unica frase: ‘Goa e demais’. Um amigo em particular somente me dizia que era fantastico, sem saber me explicar o por que.

Pegamos nosso trem noturno de Calicut a Goa e, com nossas ‘caminhas-banco’ armadas, aguardavamos pelo jantar. Ate que, senti uma comocao passando perto de minhas pernas, apenas para constatar dois ratos enormes circulavam por entre os bancos. Nao preciso dizer que perdi o apetite esta noite…

Chegamos em Margao, Goa por volta das duas da manha. A estacao estava lotada de corpos, dormentes que deveriam estar aguardando o proximo trem. Uma coisa que estou notando cada vez mais na India e que a qualquer hora, em qualquer lugar, os lugares sao lotados. O segundo pais mais populoso do mundo parece ter sido infestado por humanos, que profliferam em uma escala exorbitante, para dividir entre eles o que ja e escasso e o resultado e a falta: falta comida, falta trabalho, falta saneamento basico, falta condicoes minimas para qualquer ser humano sobreviver.

Fomos ate os ‘pre-paid’ taxis e varios motoristas nos disputavam a tapas. Pegamos um taxi ate um hotel local, ignorando nosso taxista que insistia que iria estar fechado e que deveriamos seguir para o hotel dele…OUtra coisa que estou notando, as pessoas mentem pra cacete pra voce quando voce desce do trem. O hotel estava aberto e ali ficamos ate o amanhecer do dia, quando pegariamos o onibus para Anjuna.

No caminho para la, uma estranha senhora saiu do lugar dela para sentar bem ao nosso lado. Ela empurrou umas sacolas para o colo do Alistair, e veio puxando conversa, mas eu achei a coisa toda meia estranha. ela era meio estranha mesmo e, quando o cobrador chegou, fez questao de pagar nossa passagem.

Fiquei cismada, achei que ela queria alguma coisa, mas assim que chegou a parada dela, ela desceu calmamente e ainda nao entedemos direito o que aconteceu.

Chegamos em Anjuna no comecinho da tarde e, proximo a parada do onibus, paramos num cafe com vista para o mar. Estavamos curiosos para saber como seria a praia ali. Goa tem uma vasta selecao de praias e cada uma tem a sua caracteristica, escolhemos por Anjuna por combinar a melhor praia desta parte da costa como tambem uma agitada vida noturna.

Por isto, ao olharmos pela sacada do bar e ver o rochedo abaixo de nos, nos sentimos um pouco desolados, pois areia mesmo, nao havia muita. De um dos casebres ao lado do bar, um senhor de meia idade parecia ocupado tentando se desfazer de seu lixo, e dali de sua casa, jogava na praia sacos enormes repletos de sei-la-o-que. A certa altura, ele comecou a jogar lampadas fluorescentes, que se estilhacavam ao chegar na areia e fizemos uma nota mental para nao pisar naquele pedaco ate o final de nossa estada.

O al encontrou uma pousada bem legal, literalmente na frente da praia, que nao era nada parecida com o pedaco que vimos quando estavamos no cafe. Deixamos nossas coisas e fomos caminhar na areia. Estamos meio que fora da temporada, pois muita gente nao vem para a India nesta epoca porcausa das moncoes, mas confesso, ou fomos extremamente sortudos ou o global warming as esta extinguindo, porque fora uma noite em Varkala, nao vimos nem sinal das chuvas torrenciais.

Mas de qualquer forma, Anjuna nos pareceu bem mais vazia do que estavamos esperando. Mas sem problemas, a praia e linda e bem no final dela, no canto esquerdo, encontramos um bar otimo, que parece ser o ponto-de-encontro entre os hippies locais, bem como os mochileiros.

Ali, saboreando uma otima ‘sweet lime soda’, assistimos ao por do sol.

O bar, apesar de nao estar assim bombando, estava lotado de uma galera no minimo interessante. Os ‘long stayers’ (como assim sao conhecidos a galera que veio, se apaixonou e por ali ficou) parecem ser formados por pessoas de idades e  nacionalidades diversas.  Muitos estavam calamamente fumando seu baseado, ao som de um excelente trance, esperando pelo sol se por como nos.

A certa altura, um indianinho montadesimo veio nos perguntar se tinhamos haxixe. Com sua camisa de seda preta, com bolas brilhantes e gel no cabelo, parecia totalmente desambientado. O nome dele era Rajel, era de Mumbai e havia viajado para Goa atras de balada, mas estava decepcionado de ao inves dos grandes clubs, encontrar apenas hippies naquela epoca do ano.

Sem tempo a perder, saiu perguntando para o bar inteiro se eles tinham haxixe. A certa altura, um indiano de pele morena, que estava fumando um baseado com os hippies se ofereceu para ir buscar para ele. Rajel deu assim, de cara, 1000 rupias na mao deste cara que ele havia acabado de conhecer. E assim, aguardando pelo indiano, Alistair e Rajel passaram a noite jogando sinuca. E o cara, claro, nao apareceu mais.

Voltamos meio ‘altinhos’ de nossa primeira noite em Anjuna , a mare estava alta e cobriu o caminho pela praia que usamos para chegar ate o bar (que se chama Chillies, by the way). Entao, tivemos que desvendar nosso caminho por tras do bar, no escuro.

Fomos seguindo uma estreita trilha, ate que ela se dividiu em varias outras trilhas menores e, inevitavelmente, nos perdemos.

Avancamos (ou regressamos) no que nos pareceu ser o caminho certo, so entao para cairmos na real de que estavamos cruzando os quintais dos casebres locais. A certa altura, caimos num campo que pareceu estar lotado por grandes formigueiros, ou pequenas montanhas, na escuridao nao podiamos dizer ao certo. Ate que um dos formigueiros comecou a se mexer. Acendi meu isqueiro e vi que estavamos cercados por vacas, deitadinhas no campo, cochilando.

Mais a frente, encontramos um cachorro que nervosamente latia sem parar para nos. Mais para frente, um outro. O Al ia pouco a pouco os enfrentando, pois ele diz que em situacoes como esta, voce tem que mostrar quem e que manda. Mas, quando o um ou dois cachorros foram se agrupando em dezenas, latindo histericamente ao nosso redor, a coisa comecou a ficar complicada. E, mesmo o Al, com a sua tatica de encarar e berrar de volta a nossos agressores, comecou a ficar preocupado. Um deles parecia a ser o lider da matilha e, ‘querendo se mostrar’ comecou a tomar uma posicao de ataque. Parecia que a qualquer momento ele iria voar em nosso pescoco e, se ele fizesse isto, certamente os outros quinze iriam fazer o mesmo. Comecei a suar frio. Mas continuamos caminhando normalmente.

A nossa sorte foi que, aparentemente, saimos do territorio deles e assim que fizemos isto, eles nos deixaram em paz. E, como que por milagre, chegamos de volta ao nosso hotel.

Assim que o sol saiu, fomos ate o centro de Anjuna, para alugar uma ‘Vespa’, ou scooter como aqui e conhecida. Com nosso transporte resolvido, fomos encontrar Rajel na praia.

Pegamos um pouquinho de praia. A distancia, algumas mulheres vestidas com saris coloridos abordavam os turistas, para comprarem bijouterias, artigos para casa e  lencos indianos. Ao longe, com o colorido de seus saris contrastando com o mar e a areia, formavam uma pintura maravilhosa.

Uma garota com um sari co-de-rosa de repente se aproximou de nos. A conversa comecou como sempre’ What is your name, Where are you from?, I have some nice things, Look, Its Cheap…’ Ela se chamava Nadia,  tinha dezessete anos e ja era casada (com um marido escolhido pelos pais) . Perguntei se eles (os pais) haviam feito uma boa escolha e, Nadia, com um triste olhar apenas balancou os ombros. Nao sei se foi para ajuda-la, ou se fiquei comovida com sua triste historia, mas comprei uma tornozeleira, mesmo sabendo que ela estava me cobrando muito mais do que realmente valia.

Quando o restante do bando assistiu a transacao, vieram correndo. E novamente a mesma serie de perguntas, o que acabou se tornando chato. Saimos dali e com nossa moto, fomos conhecer a vizinhanca de Anjuna.

Existe uma infinidade de praias ha uma distancia de 10, 15 quilometros e de moto, da para conhecer a regiao bem em poucas horas, e assim decidir que praia cairemos em seguida.

O caminho ate elas, e simplesmente maravilhoso. Uma pintura, com ricos campos abertos, muitos, muitos coqueiros e ocasionalmente, casaroes portugueses no estilo colonial.

Alias, a impressao que tive e que estou diante de uma das pinturas do Brasil colonial, aquelas com a paisagem, o casarao e um indiozinho aqui e ali. Mas a vegetacao parece ter sido composta em ‘Bald’, ou ‘Negrito’ aquela tecla que deixa as fontes mais intensas.

A vegetacao de Goa e mais intensa, mais selvagem, menos tocada. E, passeando de moto, contra o vento, cara, acho que atingi o nirvana. Fomos ate Vagator, uma praia famosessima pela balada. De outubro a Dezembro, Goa bomba com bons clubs, praias e turistas. Como ainda e muito cedo, a maioria destes clubs estao ainda fechados, o que eh uma pena. Em Vagator, fomos ate um club que mesmo fechado, nos deixou de queixo caido: que puta lugar para se ter uma balada, no topo da montanha, bem acima da praia e do mar, com sua pista de danca a ceu aberto…Pra mim este e ‘THE PLACE” para se fazer uma balada com certeza.

Vagator, bem como as praias vizinhas estavam bem desertas, ainda mais que Anjuna e assim, desistimos da ideia de seguir para la depois. Nesta tarde, visitamos um forte abandonado, datado de 1617, ao topo de uma das montanhas vizinhas a Vagator.

Dali, seguimos para Morjim, que tambem estava deserta. Entramos com a moto na praia e ali, desviando dos pescadores, corremos com nossa moto e a sensacao, cara, foi incrivel. A unica coisa que pensei foi que ‘Life Can’t Get Better Tha This’. E senti isto o dia inteiro. E impossivel nao ficar feliz em Goa. E impossivel. Meus amigos tem razao. Nao tem como explicar. Goa e demais. E ponto final.

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3 comentários para “Margao – Anjuna – 27 – 30 th August 2008”

  1. Vera Lúcia Motta Damigo disse:

    Karina estou adorando seus comentários e principalmente as fotos. Estou viajando com vocês, adoro a maneira como você descreve suas experiências, parece que estou aí. No sábado, aniversário da Clara, vamos sentir muito sua falta, mas sabemos que está bem, o Al também. Isso que vocês estão vivendo creio que é a maior e melhor experiência de suas vidas. Bjão e saudade, Vera.

  2. Karina disse:

    querida !
    Que bom ouvir de vc e saber que estas nos acompanhando! Voce sabe que vc tem um lugar especial em nossos coracoes. Um Grande Abraco,
    Kaka e Al

  3. Deborah disse:

    Ka, sensacional sua descrição de Goa!! Que a vegetação é em “negrito”, isso foi demais!!!!! E os formigueiros gigantes que na verdade eram vaquinhas dormindo…. ahahHAHAHAH!! Karina tu é muito engraçada!! E sobre a balada no topo da colina, vc adora uma balada né Ká?!!! Aproveite!!! um beijo enorme Namastê!!!!

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