Goa – Arambol – 31st – 4th September 2008

O estado de Goa e o menor de toda a India. Os portugueses inicialmente chegaram ali como mercantes, mas aos poucos foram se apoderando do lugar, ate domina-lo totalmente, durante o seculo XVI e ali permaneceram ate 1961, quando GOA foi anexada a India.

Considerando que nao fazem nem cinquenta anos desde sua partida, era de se esperar uma influencia cultural maior. Atualmente, somente os habitantes mais idosos falam o portugues e, apesar de haverem negocios com sobrenomes portugueses, os casaroes coloniais, bem como as igrejas, sao as marcas mais explicitas do seu passado europeu.

No caminho para Arambol, pela estrada de terra, vez por outra cruzavamos uma destas construcoes, e, apesar de parecerem abandonadas, continuam impressionantemente belas, apesar da pintura descascada e jardins abandonados.

Chegamos em Arambol no final da tarde e, logo que deixamos nossas malas, fomos ate a praia. A costa nao e das mais belas, o mar e ate meio lamacento, mas no canto direito ha um lago de aguas doces, como aquele na Praia da Guarda, no Sul do Brasil.

Quando chegamos no lago, alguns turistas circulavam por ali. Alias, a atmosfera em Arambol e bem sociavel, nestes pontos de encontro onde os turistas geralmente vao. Ali na areia, entre mar e o lago, conhecemos Cris, um americano de Tennesse que havia largado a faculdade para viajar pela India. Ali tambem conhecemos a Iada, uma austriaca que havia chegado para trabalhar numa associacao de caridade.

Quando comecou a escurecer, fomos jantar num dos restaurantes na frente da praia. Alias, na praia mesmo, uma vez que as mesas sao sob a areia. Ali, com o ceu super estrelado, a luz de velas, saboreamos um otimo curry de camarao.

Apos o jantar, fomos para o bar vizinho que a noite passa filmes piratas e tem mesas de snooker. Encontramos com o Cris, que estava numa mesa com um alemao, chamado Patrick e dois indianinhos, Raj e Prakesh, da regiao de Manali e ali, entre varias cervejas, passamos nossa primeira noite em Arambol.

Na manha seguinte, depois de tomar um cafe da manha delicioso ali de frente para o mar, seguimos para o lago.

Cris apareceu por la, com um grupo de ingleses e ficamos por ali, conversando, nadando e tentando fugir das vendedoras de bugigangas que nao nos davam sossego. A certa altura, quando estavamos todos dentro da agua, elas sentaram num tronco e ficaram ali, nos esperando sair, embaixo daquele sol forte. Aquela coisa de ‘Discovery Chanel’ mesmo, o predador vai a caca nas proximidades da agua, porque sua presa ira para aquela regiao a uma certa altura…

Quando sai da agua, comprei um colarzinho para ajuda-las, mas assim que fiz isto, umas outras tres me cercaram…Prometi para mim mesma que nunca mais iria fazer isto, pois to ficando com um monte de bugiganga que nao vou usar e ao inves de me deixarem em paz, ai que elas colam mesmo!

Dali, subimos ate uma montanha proxima,cruzando por um pequeno rio.

Ao chegar ao topo, encontramos uma bela banyan tree (figueira) , que parece ser o local preferido dos campistas, o que eu acho uma loucura, pq a area ainda eh super florestal e deve ferver de mosquitos!E, francamente, voce precisa gostar muito de camping para acampar na India, onde o preco da hospedagem chega a 150 rupias (menos de 10 Reais).

A noite, seguimos para o ‘nosso’ barzinho na praia. Ali, encontamos o Cris, Patrick, Raj e Prakesh. Enquanto o Alistair e eles se revezavam na mesa de sinuca, comecamos uma conversa animada sobre os habitos e costumes da India.

Ha algumas semanas atras, um turista briacaco havia tentado arrancar uma cruz do chao, na frente de uma Igreja em Arambol. Inicialmente foi confrontado por alguns locais. A confusao foi atraindo mais e mais pessoas que ao saberem do ‘feito’ do infeliz, resolveram por ali castiga-lo e o lincharam ate a morte, ali mesmo, bem ao lado da cruz.

Linchamentos publicos, crimes por honra, guerras de castas, tudo isto ainda e bastante presente na realidade do indiano. E nao e apenas fofoca de bar nao, comprei uma revista, tipo a Veja e, do comeco ao fim, a revista veio recheada de artigos sobre isto.

Na mesma noite, Raj ao saber que era do Brasil, veio me apresentar o dono do bar, o Joao, de Portugal. Ele era um militar aposentado, que havia vendido tudo em Portugal e imigrado para Goa. Eu ja o havia visto na praia, pois assim que ele pisou na areia, todos os cachorros da praia correram em direcao a ele e comecaram a latir. Fiquei intrigada, mas agora entendi: e ele quem os alimenta!

Tambem nesta noite, conhecemos  um portuguesinho que havia terminado a faculdade em Portugal e decidido fazer mestrado em Goa (!). E havia chegado a Arambol ha tres anos atras, se apaixonou pelo lugar e resolveu ficar por ali. Passamos a noite inteira conversando e combinamos de na noite seguinte ir ate a uma rave. Nao perguntei o que ele fazia para sobreviver em Goa, mas ao ver ele e o Raj conversando sobre o que levariam para a festa, entendi que ele deveria vender drogas.

Nao tenho nada contra drogas leves. Muito pelo contrario. Mas drogas pesadas, cara, ach que sao baixo astral. E na India toda tem uma leva de turistas que vem para ca apenas atras de ‘brown sugar’, heroina. Alguns vem para ca apenas com este intuito, compram o maximo que podem (que aqui e barato) e passam semanas completamente fora de si, para depois voltarem para seus paises, onde retornam as suas vidas normais.

Eu realmente nao vejo o ponto em tudo isto, mas enfim, cada louco com a sua mania.

No dia seguinte, eu, Al, Cris, Patrick e um inglesinho que nao lembro o nome alugamos umas motinhos e fomos explorar a regiao. O caminho ate la foi fantastico, passando por vilas, casebres, campos. Numa destas passagens, Cris derrapou com a moto e teve um pequeno acidente. Os habitantes da vila logo se prontificaram a ajuda-lo, e trouxeram um copo de agua, ja que ele parecia bem nervoso. Ao ver o copo, acho que ele ficou ainda mais nervoso, pois todos os guias de viagens sobre o pais te dirao para ter cuidado com a agua. Tambem dizem que 70% das pessoas sofrem de diarreia nas primeiras duas semanas, mas ate agora nada aconteceu, nem conosco, nem com todos que encontramos no caminho, ja que esta virou uma pergunta tipica entre os mochileiros na India.


Nosso destino era um forte que ficava numa peninsula oposta onde estavamos. Para chegar la, pegamos uma balsa.

O comandante, ali de sua cabine, de repente me chamou para ir ate la em cima. Fui, pensando que dali poderia tirar uma foto e pronto. Ele me chamou e, largando o leme, gesticulou para que eu assumisse o controle. Achando que daria uma bela foto, topei.

Ele entao, de repente se afastou e deixou a balsa sob meu controle total. Apos alguns minutos e, com a foto feita, quiz devolver o leme para ele, mas ele nao aceitou.

Cara, que loucura, nao so dirigi a balsa o caminho inteiro, como tambem


tive que estaciona-la. Gente estes indianos sao loucos!!! Por isto to amando este pais, hahhaa, imagina em nenhum lugar do mundo eles me deixariam fazer isto !!!


Fomos ate o forte (que hoje funciona como um hotel) e na volta, decidimos voltar ate Anjuna, pois toda quarta-feira tem um mercado de rua que e bem conhecido. Eu e o Al estavamos receosos de chegar la e encontrar um monte das vendedoras insistentes da praia, o que seria um inferno, mas enfim, pegamos a estrada para la.


No caminho, avistamos o portuguesinho que conhecemos no bar, empurrando a sua motinho. Achamos que ele estava sem gasolina, por isto, eu e o Al logo paramos e fomos ver se estava tudo OK. Cara, tentar falar com ele era inutil: ele estava completamente fora de si, salivando muito e suando mais ainda. O olhar perdido nao nos reconhecia e nao havia nem a sombra daquele cara bacana e inteligente com quem passamos a noite conversando. Perguntei se ele queria uma agua, mas quando fui buscar, os outros motoqueiros que estavam conosco retornaram para ver porque haviamos parado e, com isto, ele se assustou e continuou empurrando a moto, so que com mais velocidade. Pensei que ele nao queria ser incomodado e fiquei mais tranquila de ver que ele teve o bom senso de empurra-la ao inves de dirigi-la.


Uns dez quilometros mais para frente, encontramos com o Mauricio, (acho que israelense) que tambem conhecemos na noite passada. Gente, ele tava bem numa destas vilas bem simples que passamos, caido no chao, completamente desmaiado, uma de suas pernas estava caida bem no que pareceu ser o esgoto da vila, galinhas passavam pelo seu corpo, as pessoas desviando e ele la caido. Foi chocante. Claro, eles devem ter tomado um ‘smack’ ha alguns minutos atras e agora tavam assim, doidoes. Nunca havia visto alguem ter viagem de ‘smack’ e confesso, nunca mais quero ver: ali, completamente desmaiado, a expressao facial que a pessoa fica eh de terror e nao de paz, quando esta apenas dormente. Alem disto, em viagem voce fica normalmente num estado de alerta meio que constante, nao paranoico, mas sim de cuidado. E ali, caido, qualquer pessoa poderia fazer o que quizesse com ele que ele nem sentiria. Pessimo.

Chegamos em Anjuna, mas infelizmente o mercado ainda nao estava funcionando (somente a partir de OUtubro – Dez), entao fomos ate o Chillies, no final da praia, comer lula a dore.

Na volta, as vendedoras de Anjuna (que sao muito mais hardcore que as de Arambol) cercaram Cris e Patrick e, eles levaram uns bons 20 minutos para se livrarem delas.

No caminho de volta, de longe vimos uma multidao no meio da estrada. Ao nos aproximarmos, pudemos ver o que restou do acidente que havia acabado de acontecer. Duas motos se chocaram, acho que praticamente de frente, ja que nao havia marcas na estrada de pneu, apenas um solitario capacete repousado no asfalto. As motos, ambas, estavam num estado assim, chocante, uma delas, o eixo das rodas, o guidao e a lataria da frente havia tomado o contorno de uma linha reta, a outra, uma destas motinhos de turistas como as que estavamos usando, estava totalmente despedacada.

O impacto, para deixar este estrago todo, deve ter ocorrido numa velocidade alta, o que e estranho, em goa, fora os onibus, a maioria das pessoas dirige com cuidado.

Retornamos nossas motos assim que chegamos em Arambol e fomos jantar. Mais um jantar, com as estrelas, comida deliciosa e barata….Ai, Goa, voce e a minha ideia de paraiso…

Seguimos para o nosso bar, como uma rotina que em poucos dias criamos, encontramos com as pessoas de sempre, Prakesh veio nos chamar para a rave, mas tava um pouco cansada do dia, entao deixei para la. Nem sinal dos meninos que conhecemos na noite passada…

Na manha segunte, arrumamos nossas coisas para ir embora, com o coracao apertado. Passei na loja do Prakesh para me despedir e, recebi a noticia: o acidente que vimos na estrada era mesmo o portuguesinho do bar. Ele havia sido levado para o hospital, sofreu traumatismo craniano e lesoes cerebrais ate o momento tidas como irreversiveis. Os meninos que o visitaram no hospital disseram que ele apenas mexia alguns dedos e nao falava coisa com coisa.

Como uma historia em quadrinho, vi todas as cenas dos acontecimentos, ele combinando com o Raj dasdrogas que iria pegar, ele na estrada carregando a moto, o Mauricio ali caido, as motos destorcidas do acidente e agora, o Prakesh me dando a noticia. Provavelmente, nos fomos as ultimas pessoas a conversarem com ele pelo que parece, ate o final da vida dele.

Acho que quando ele melhorou, ele provavelmente tentou dirigir mas se esqueceu que em Goa os sentidos sao contrarios, como na Inglaterra. Sai de la com uma sensacao pesada no estomago, nos poderiamos te-lo impedido de voltar para a estrada, mas sera que seria suficiente? Acho que nao, pois quem entra nesta onda de heroina, coloca a vida toda na contra-mao, o tempo todo.

Tags: , ,

2 comentários para “Goa – Arambol – 31st – 4th September 2008”

  1. karina disse:

    Oi! Nossa, que bom que ele esta se recuperando! Que coincidencia que vcs conhecem ele! POr favor, mandem meus sentimentos para ele e para a familia e espero mesmo que ele se recupere bem mesmo. Um Beijo!

  2. Nicolau Vakeiro disse:

    Está recuperado, Karina!
    o poovo do Porto, te garante! lol

Deixe um comentário